sexta-feira, 6 de abril de 2012

Coelho da Páscoa?!



Acaba que na páscoa o brasileiro é um pouco português: o bacalhau impera soberano. Não por conta da tradição de não se comer carne na sexta-feira santa, mas no próprio domingo é ele que, agora vai para a mesa. Acompanhado de vinhos e bolos à base de ovos. É interessante esta característica, eu acho. O paladar do brasileiro é tão plástico, cabem tantas adaptações, que tudo acaba sendo bem-vindo. Na falta de tradições (somos um país-bebê), esta é uma das poucas que "pegaram".
Mas, o grande mistério da páscoa, para mim, é como o coelho entrou na história, trazendo o chocolate, que é um ingrediente originário da América Central. E olha que o chocolate não caiu nas graças do paladar espanhol logo de cara. Foi só quando Fernão Cortez, conquistador espanhol, se infiltrou na realeza asteca e se deu conta da enorme quantidade de cacau consumida pelo imperador, é que resolveu levar a iguaria para a corte espanhola por volta de mil quinhentos e tralálá... O ovo de páscoa eu entendo como símbolo de renascimento. Como a páscoa é um momento de júbilo, colocar o chocolate no ovo ao invés de ovo, ovo mesmo, aumenta a alegria! Mas, quem disse que o coelho era o portador? 
Historicamente, a páscoa e os ovos são uma tradição pagã da Mesopotâmia, de mais de 2000 anos antes de Cristo. Ovos pintados eram escondidos nos bosques para que as crianças fossem encontrá-los, enquanto os fornos assavam pães doces aromáticos em honra a ressurreição do Deus Tammuz, resgatado do mundo subterrâneo pela Deusa Isthar. A festa, inclusive, levava o nome dela.
Cristianizar símbolos e festas pagãs foi uma prática comum. Então, do paganismo ao cristianismo, um passo. Dos ovos pintados aos de chocolate, outro. Mas e o coelho? Será que é porque ele é símbolo de fertilidade? 
De qualquer forma é uma festa onde a comida, mais uma vez, cumpre seu incansável papel: agrega, diverte, educa e congrega. Sempre.
O meu bacalhau (a Kelly pediu, está grávida e desejo de grávida é ordem aqui em casa), vai ser brandade com creme de leite Balkis. Seja como for que você vá comemorar a páscoa, espero que ela seja muito boa!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Ásia sustentável na Colômbia



Fui a Bogotá e acabei na Ásia. Em um lugar muito bacana chamado Wok, que é uma rede com sete restaurantes espalhados pela cidade. Tudo que comi era delicioso. E a apresentação, idem. A comida passeia pela Ásia de forma criativa e utiliza a inteligência colombiana para elaborar um cardápio lindo (vale a pena olhar). Lá se privilegiam os ingredientes nacionais, que são todos obtidos de fornecedores de diferentes lugares do país. Eles vêm de comunidades de pescadores, que pescam sem utilizar rede e não
comercializam espécies ameaçadas, por exemplo. O leite de coco é da produção artesanal de trinta e duas famílias, a cúrcuma é orgânica e por aí vai. Com este conceito, o restaurante se abastece apenas de produtos frescos, e garante a compra e a subsistência de pequenas comunidades envolvidas no plantio, cultivo de brotos, pesca consciente etc. A elaboração do cadápio foi superfeliz na utilização disso tudo, o restaurante fervilha de gente, e o produto final é pura festa


Experimentei o waki de  tomates com aspargos salteados, abacate, queijo campesino (aqueles vendidos embrulhados em folha de bananeira); um rolinho com tofu defumado, shitaki, macarrãozinho cabelo de anjo e molho agridoce; um curry de legumes; e um suco maravilhoso de abacaxi com tamarindo, gengibre e pimenta.
E o melhor de lá, e pior para a vida real daqui: não era caro...E viva a Camila que me deu todas as dicas de Bogotá!