terça-feira, 21 de abril de 2015

Adeus

Desde julho de 2010, este blog fez parte da vida: uma comida boa precisava ser fotografada antes de tudo; amigos pelo mundo carregaram coisas diferentes para que eu pudesse dividir aqui; este Brasil surpreendente com sua cultura gastronômica múltipla e desconhecida dos próprios brasileiros rendeu muitos posts; boas iniciativas na área da gastronomia, geléia de bacuri, cuscus de canjiquinha, godó de banana...muita coisa. Afinal, foram quase 5 anos completos escrevendo semanalmente sobre a nobre arte da alquimia que mantém a vida: alimentar-se. E agora acabou: a Balkis decidiu encerrar o blog. Esta foi uma linda parceria que, como um bom ingrediente e como tudo na vida, transformou-se.
Queria agradecer aos leitores que me acompanharam e que se tornaram amigos e companheiros desta adorável viagem. Foi muito bom poder dividir tanta coisa. Que vocês sigam curiosos e cada vez mais motivados com a felicidade de desfrutar bons momentos ao redor de uma mesa, com amigos e comida boa. Valeu, pessoal!

domingo, 12 de abril de 2015

Domingo diverso



São Paulo, como todas as grandes cidades, é difícil, concordo. Mas tem aspectos tão legais que só e justamente por ser isso que ela é - uma cidade muito, muito grande - pode oferecer. Porque é tudo junto e ao mesmo tempo. A dialética do avesso que, Caetano Veloso, tão lindamente cantou em "Sampa".

Ontem estive na "Feira de Economia Solidária" protagonizada por mulheres de Cananéia, litoral sul do estado de São Paulo. Lá, elas desfrutam da vida em pequeníssimas comunidades e se juntaram para formar uma sociedade produtiva baseada no princípio da "reciprocidade, solidariedade, trabalho autogestionado e decisão coletiva sobre a produção". O resultado elas mostraram ontem no Largo da Batata: artesanato, apicultura, farinha de mandioca, palmito fresco, pães, geléias, conservas, chips de banana e a alegria de poder compartilhar com mais gente o resultado de levar uma vida "que vale a pena ser vivida", para fazer minhas, as palavras delas.
Já no bairro da Liberdade, acontece a "Feira Vegana de Outono", com enfâse nas comidas e todos os produtos que vêm na esteira dessa visão de mundo na qual os produtos de origem animal não entram na produção de nada.
E, por último, a feira espanhola no "La Feria", com comidas, produtos, música e dança como
 tipicamente acontece lá na Espanha. Para isso vários restaurantes, escolas de música e  de dança da cidade foram chamados a participar.
Ainda na Vila Madalena, a orquestra de Antonio Carlos Martins toca em evento que faz parte da "Virada da Saude" e tem degustação de queijos, mel, geléia e pães orgânicos.
Todos os eventos têm entrada gratuita. Do jamon à coxinha de jaca passando pela sempre maravilhosa mandioca, a escolha é sua. Porque construir a diversidade verdadeira é sempre alguma coisa boa para a alma.






quarta-feira, 8 de abril de 2015

Páscoa diferente



Minha páscoa não teve ovos de chocolate, compras ou preparações. Foi no mato que ela se revelou muito diferente.: teve bolo com forma de coração emprestada da vizinha, forno para assar de outro vizinho e cobertura de puro líquor de cacau - diretamente da Bahia -, que eu carreguei da minha própria casa. Foi uma delícia! Com uma infinidade de borboletas diferentes, limão e abacates colhidos na hora e refeições com mesa no terraço, rio à frente cantando 24 horas por dia.
Trouxe pinhões colhidos em uma caminhada que viraram um delicioso quibe com quínua e bulgur, e recebi notícias do amigo distante que andou colhendo aspargos selvagens em algum bosque italiano. Mas o melhor foi que, junto disso tudo, o friozinho chegou mansamente e destrancou o desejo de sopa quente.  Ficou gostosa e digna de ser repartida. Sopas com agrião já fiz muitas, mas com mostarda foi a primeira. E o queijo grelhado na chapa quente me lembrou de tempos em que o frio durava tempo suficiente para criar boas memórias gustativas. Com as mudanças climáticas em curso, já comecei a aproveitar as breves visitas de temperaturas mais baixas para fazer sopas.




Sopa de legumes com mostarda
Ingredientes
1 chuchu
2 cenouras
1/2 cebola
1/3 de maço de mostarda
1 tomate
3 batatas
azeite de oliva (quanto baste)
queijo coalho Balkis (q b)
sal (qb)

Modo de Preparo
Higienize todos os ingredientes.
Corte a mostarda em tiras finas. Reserve.
Corte o queijo coalho Balkis em tiras finas e reserve.
Corte regularmente os legumes e refogue todos eles em azeite. Deixe que fritem um pouco. Salgue. Acrescente as folhas da mostarda cortada e água suficiente para cobrir os ingredientes. ]
Cozinhe até que todos fiquem bem macios. Bata tudo no liquidificador. Reserve.
Doure em azeite as tiras finas de queijo coalho Balkis e corte-as em pequenos cubos.
Sirva a sopa quente com cubos de queijo coalho Balkis dourados por cima.



















terça-feira, 31 de março de 2015

A realidade do capim-santo que parece ficção


flores da pitaia
Gente, vou pedir licença porque o assunto é sério. Estou aqui, semanalmente, para falar de comida, paladar, construção de conhecimento e cultura. Moro em uma das maiores cidades do planeta, centro gastronômico e cultural importante, e bem ali, a 3 quilômetros da minha casa mora a ignorância. A Neide Rigo, nutricionista dona de grande conhecimento que divide regularmente, está no centro de uma questão bizarra. Se uniu aos vizinhos para plantar e cuidar de uma horta comunitária que acabou virando uma "questão". Plantar ervas para todos e qualquer um e cuidar de um espaço público abandonado, substituindo lixo e entulho por plantas comestíveis e flores foi  mal interpretado e gerou reações contrárias de alguns vizinhos - acreditam?
Fiquei tão espantada com essa história que achei importante passá-la para frente. De que adianta receitas incríveis se não se reconhece a beleza e a importância de ações que educam, inspiram, embelezam e contribuem? Quem pode ser contra a ideia de poder ir ali na esquina e colher manjericão fresco para o seu macarrão e capim-santo para o suco ou o chá? Plantados e cuidados por alguém que eventualmente você nem conheça, mas que divide com você? Acho que não estou entendendo o mundo direito...
Na praça em frente a minha casa colho, abacate, limão cravo, fruta pão e eu mesma plantei uma mangueira, que vai indo muito bem, obrigada. Plantado do lado de lá, mas florescendo e frutificando do meu lado do muro estão essas maravilhosas pitaias que os vizinhos dividem comigo. Sou uma otimista e acho que a Neide vai sair vitoriosa dessa história, mas expôs com ela uma realidade que parece ficção. E que precisa, sim, de exposição para poder ser esclarecida e modificada. Porque, acredito que só muita ignorância seria capaz de gerar atitude semelhante. E, para ignorância, esclarecimento. Que pode chegar com cheiro de capim-santo para o suco, o arroz, o chá, o brigadeiro, a sopa tailandesa etc etc etc.

pitaias

segunda-feira, 23 de março de 2015

Abobrinha vestida para festa




Já imaginou que uma abobrinha pode ser uma "abobrona", e que pode virar prato principal? Foi assim comigo. Era o jantar para uma amiga querida e estava em dúvida sobre o que fazer. Na feira de orgânicos encontrei essa megabobrinha e a Marcela sugeriu: recheia. Recheei! Com shitake, ela própria, vagem, ervas e bastante azeite. Por cima o queijo, e em volta tomatinhos assados com mais ervas e azeite. Ficou gostoso e muito diferente, além de prático e diferente.  

Ela tem um nome engraçado: abobrinha menina brasileira. É mais firme que a abobrinha italiana, pode ser bem grande e concentra as sementes na parte mais arredondada. Todo o resto era pura polpa. Dispensei as sementes e fiquei com a polpa que raspei com uma colher até chegar na casca: ficou um barcão.  Untei com azeite, sal e ervas (manjericão, alecrim, tomilho e salsa). O recheio foi ela mesma refogada com shitake, vagem e salsinha. Queijo por cima, papel alumínio e forno. Quase que nem deu foto...só tinha uma banda quando foi fotografada. 

segunda-feira, 16 de março de 2015

Panquecas sem trigo





Tive uma nostalgia de um sabor específico...lembrei que da última vez que estive na Índia em que, todos os dias no café da manhã eu comia uma deliciosa panqueca de arroz chamada dosa. Geralmente são feitas na hora, têm um aeramento maravilhoso e contrastam com as chapas bem escuras onde, brancas e alvas, entram líquidas e saem quentinhas e macias. Têm um sabor levemente azedo por causa do iogurte que entra na preparação da massa. Humm...saudades da Índia e seus trocentos mil sabores.
Já reparou como as crianças adoram panquecas? No meu almoço com comensal infantil me arrisquei na panqueca com farinha de arroz que nunca antes havia feito. Substituí a farinha de trigo por farinha de arroz e amido de milho. Funcionou! Ficou longe da dosa mas, deu maciez, beleza e gostosura. Recheei com creme de ricota e palmito, cobri com molho de tomate, queijo parmesão e pronto! Fez sucesso com as crianças pequenas e com as grandes (no caso eu mesma).
Me ocorreu que os intolerantes ao glúten e lactose podem fazer delas também. Dá para substituir o iogurte por um caldo de legumes. E, caso não queiram utilizar ovo na massa é só substituir por uma colher de sopa de linhaça hidratada em água. Quanto à manteiga, usem guee (manteiga clarificada) que não tem lactose nenhuma e é pura gordura, liberada para todas as intolerâncias. Para o queijo, use um frescal Balkis sem lactose liquidificado com o palmito ou invente um recheio bem gostoso da sua própria cabeça!

Panquecas de creme de palmito com ricota
Ingredientes
Para a massa
1/2 xícara de amido de milho
1/2 xícara de farinha de arroz
2 colheres de sopa de manteiga
1 ovo
mais ou menos uma xícara de iogurte
queijo parmesão (quanto baste)
sal (q b)

Para o recheio
1 vidro de palmito
250 gramas de ricota fresca Balkis
iogurte (q b)
sal (q b)

Para o molho
2 latas de tomate pelado
3 ramos de manjericão
5 gotas de molho de pimenta tabasco
sal (quanto baste)
queijo parmesão (q b)

Modo de Preparo
Higienize o manjericão
Bata todos os ingredientes da massa no liquidificador. Reserve.
Bata os ingredientes do recheio no liquidificador e use o iogurte e azeite apenas para ajudar a formar um creme. Reserve.
Corte os tomates pelados em cubos pequenos. Em uma panela coloque azeite, os tomates pelados cortados juntamente com o molho da lata, sal e pimenta. Deixe cozinhar por 8 minutos em fogo baixo. Desligue e acrescente as folhas de manjericão.
Faça as panquecas em uma frigideira antiaderente. Recheia-as e enrole-as.
Monte em um refratário da seguinte maneira: unte o fundo com molho de tomate, acomode as panquecas, cubra com o restante do molho de tomate e cubra com queijo parmesão. Leve ao forno para derreter o queijo e sirva quente.

domingo, 8 de março de 2015

DIa da mulher com Tarte tatin de alcachofra e risoto de mostarda com pera

Dia internacional da mulher: comemoramos ser um gênero...comemoração estranha. Ser mulher é lindo, assim como ser homem deve ser também. Para além das motivações políticas, econômicas e sociais relacionadas com essa data, queria dizer que ter a possibilidade de carregar outras vidas em nossos próprios ventres nos faz entender tudo sobre coragem, determinação e responsabilidade por mais do que nós mesmas. Somos as do gênero feminino, mas carregamos compreensões profundas sobre o outro gênero, o masculino. Sabemos muito bem que o mundo estaria melhor se essas polaridades pudessem exercer a complementaridade e pudéssemos ter espaço para a expressão do masculino no feminino e do feminino no masculino, sem ignorância de ambas as partes. Somos seres da espécie humana. Por isso, então, viva o dia das mulheres, dos homens, das crianças e dos velhos. Viva a vida e seus estágios.
Comemorei da maneira prosaica que me faz feliz: cozinhar, na minha cozinha, com filha e tudo: torta de alcachofra, cogumelo, tomate, queijo e risoto de pera com mostarda. Parece difícil a longa caminhada em direção a um mundo melhor, né? Sabe que, às vezes, acho que a dificuldade é só um ponto de vista. A receita da torta é bem fácil!

ao estilo tarte tatin salgado:

para a massa brisée:
- 300 gr de farinha
- 120 gr de manteiga
- 1 ovo
- sal (quanto baste)

Misturar a farinha com o sal e a manteiga cortada em cubinhos, com a ponta dos dedos, até fazer uma farofa molhada. Colocar o ovo. Você não deve sovar a massa, apenas amassar o suficiente para formar uma bola e enrolá-la no plástico filme. Se for necessário,  molhe as mãos ou passe um pouquinho de água na massa para completar a liga. Deixar a massa na geladeira por pelo menos 30 minutos.

Recheio:
-1 vidro corações de alcachofra
-1 bandeja de shitake
-10 tomates cereja
- 1 queijo Lunarela Balkis
- azeite (quanto baste)
- ervas (tomilho fresco, alecrim, ou outras ervas)
- sal (q b)
- pimenta tabasco (q b)
- ghee (q b)

Separadamente,  passe a alcachofra e o shitake na frigideira com azeite, ghee, sal, pimenta e ervas.
Preste atenção no modo como vai cortar os ingredientes pois esse já é o começo da torta.
Unte uma assadeira e vá montando uma mandala com a alcachofra, os tomates cereja cortados ao meio e temperados com azeite, sal e limão e o shitake.
Forre toda a assadeira com este recheio.

Abra a massa que estava na geladeira (o melhor é abrí-la entre dois plásticos para facilitar o manuseio), e cubra o recheio com a massa.
Leve ao forno até dourar.
Desenforme quente.

o queijo Lunarela Balkis vem na última hora, cortado grosso, para completar a mandala de um jeito delicioso!





Risoto de mostarda e pera, improvisado e surpreendente.

-1 xícara de arroz para risoto (carnaroli)
-1 maço de mostarda
-1 cebola cortada pequenininha
-3 peras
-1 queijo burrata Balkis
- meio maço de rúcula
-1/2 colher de manteiga
- 60gr de queijo parmesão ralado
- raspas de limão Siciliano (quanto baste)
- azeite (q b)
- vinho branco (q b)


- Refogue a cebola com azeite, acrescente o arroz fritando bem, jogue um pouco de vinho branco e deixe o arroz absorver. Então acrescente a mostarda picada, refogando tudo. Salgue. Coloque duas peras raladas, a outra pera pode ser cortada em tiras e colocada na última hora para agregar sabor. Coloque duas xícaras de água, mexendo de vez em quando para estimular o amido do arroz. Coloque a última xícara de água.
Um pouquinho antes do arroz secar completamente, levemente al dente, desligue a panela, coloque o queijo parmesão ralado, meia colher manteiga, a rúcula e tampe a panela por três minutos. Abra e misture com vigor. Acrescente o queijo Burrata Balkis e a pera cortados em tiras grossas. O toque final são as raspas do limão siciliano.







segunda-feira, 2 de março de 2015

Cogumelos, batatas e sour cream para comilões



Hoje me animei com uma segunda-feira cheia de novidades: um neto chegando, uma pequena neta que já me abraça com doçura de neta para avó. A literatura gosta de ilustrar esse amor particular com referências aos doces que os pequenos adoram saborear, e as avós adoram fazer. Minha pequena tem uma história de amor diferente: ela adora cozinhar e prefere os salgados. Aqui em casa desde muito pequena é dona de uma colher de pau enorme, que lhe garante, no meu colo,  uma distância segura do fogo e eficiência total para manipular o conteúdo das panelas enquanto elas estão a todo vapor no fogão. Os doces não fazem muito a sua cabeça: sente-se atraída por eles, claro, suas formas e cores, mas essa atração é sempre mais visual do que do paladar. Experimenta-os e geralmente os troca por frutas com um delicioso: "quero melancia" ou algo parecido. Exceção honrosa aos chocolates.
Hoje ela veio para o almoço e, sabe como é, segunda-feira não é dia de muitas opções na geladeira. Mas tinha algumas coisas de que ela gosta muito: batatas e cogumelos. Achei que não tinha muito a ver, e a pressa me apontou o caminho fácil: mandolim para as batatas cruas, cogumelos crus, tomilho da floreira e sour cream da geladeira. Nada se compara à luz dos olhinhos da pequena Marina enquanto eu a alimentava e, ela disse, orgulhosa de si mesma: " Eu "adoio" "totuméio" vovó, porque sou comilona!". E é mesmo!
Minha semana começou assim, com a Marina me lembrando como a vida pode ser tão boa. E, babação à parte, ficou mesmo muito bom. Prático, rápido e eficiente com cogumelos e batatas saborosamente umedecidos pelo sour cream. Boa semana para todos.


Batatas, cogumelos e queijo sour cream Balkis
Ingredientes
4 batatas médias
2 bandejas de shitake
8 ramos de tomilho
sour cream Balkis (quanta baste)
azeite de oliva (q b)
sal (q b)

Modo de preparo
Higienize os ingredientes.
Higienize o shitake apenas com papel toalha úmido. Retire os talos e higienize-os também. Reserve.
Descasque as batatas e corte-as no mandolim finamente, ou na própria faca, bem finas. Reserve.
Desfolhe o tomilho. Reserve.
Unte com azeite de oliva um refratário e monte da seguinte maneira: 
- uma camada de batatas, sal, sour cream Balkis 
- cogumelos, sal, azeite e uma camada de sour cream
- outra camada de batatas, sal, azeite e tomilho

Coloque no forno coberto com papel de alumínio a 180 graus até que os cogumelos fiquem macios. Sirva quente.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Paella, pero no mucho



Ontem, alguém me perguntou sobre a origem do prato espanhol paella. Pelo que sei,  originalmente, a paella era a comida de camponeses. Saíam para trabalhar no campo levando apenas arroz, sal, azeite e a paella, a panela redonda com duas alças, na qual faziam e comiam a refeição, todos juntos. Acrescentavam a ela o que dava: um coelho de caça, uma galinha, os pistilos da flor do açafrão, que coloriam o arroz de amarelo, apesar de serem vermelhos. A região era Valência, sul da Espanha.
Hoje, este é um prato típico espanhol, difundido em todo o mundo. Os espanhóis têm catalogados 108 tipos de paella, que pretendem, há anos, certificar com alguma coisa do tipo "denominação de origem". Isso garantiria que essas 108 receitas se transformassem em algo intocável no patrimônio do país, assim como queijos e vinhos. O que, se pensarmos bem, é uma loucura...mas orgulho nacional não se discute.
Entre eles mesmos existe um tipo de preconceito. Os valencianos julgam que a paella deles é a melhor entre as 108, mas, como foi a paella de pescados a que mais se destacou mundo afora, diz-se que, nos restaurantes valencianos, quando chega o pedido de uma paella de frutos do mar, na cozinha o comando é: "basura para los turistas" (lixo para os turistas!).
Revanches à parte, é um prato maravilhoso, e possui como origem a criatividade espontânea de quem precisa se virar com o que tem: um dia coelho com  pistilos de flores, no outro porco, em outro ainda os dois com frango e vamos que vamos.
O ingrediente mais importante é o arroz, que tem um grão bem gordinho e de alta capacidade de absorção: é delicioso.
Hoje mesmo inventei essa aqui. Não queria páprica, nem açafrão. Na verdade, queria o arroz. Enfeitada com uns pedaços de queijo coalho dourados como o sol. E para o recheio, rezei na tradição: o que tinha! Na minha geladeira não tem carne nunca, mas tinha cogumelos, vagem, abobrinha, cenoura, ervas e tomates. Ficou uma delícia. Invente a sua, mas preserve o arroz para paella. Na verdade, é o único que faz a diferença. Pode ser até que você incorra em uma das 108 receitas sem saber...ou que invente a sei lá qual ésima...

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Comida simples no carnaval



O carnaval chegou e muitos foram para a praia, outros para a folia, outros para o mato, outros tantos , como eu, ficaram na cidade grande, bem mais vazia agora. Intenções diferentes movem a multidão, mas todo mundo quer aproveitar.
Espero que você aproveite ao máximo seu tempo livre. Está certo que, para alguns, ir para cozinha pode ser sinônimo de relaxamento e diversão, mas é para aqueles que estão fora dessa perspectiva que sugiro algumas comidinhas rápidas e fáceis como bolinho de tapioca, fundo de alcachofra recheada com queijo, sopa fria de pepino com sour cream  e salada de arroz vermelho. As quatro receitas são prá lá de simples, gostosas e capazes de te dar energia suficiente para o desfrute do carnaval, seja lá qual for a maneira que você escolheu para isso. Bom carnaval!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A farinha do seu Bené



Foi a Suzana, amiga muito querida, quem me deu de presente: um paneiro cheiinho da farinha do Seu Bené. O seu Bené é paraense, produtor da melhor farinha d'água que já provei na vida e representante ilustre de uma gigantesca população de brasileiros que vive da agricultura familiar. Gente que trabalha de sol a sol, que aprendeu o ofício com o pai e a mãe que, por sua vez aprenderam com os seus, e assim em uma cadeia de ancestralidade sem fim.
A população das grandes cidades, em sua grande maioria, está apartada de tanta riqueza e sabor: compra em grandes cadeias de supermercado produtos impessoais padronizados pelas grandes indústrias de alimentação. Bem, nós mesmos construímos esse modo de vida...ocorre que uma coisa não precisa necessariamente vir divorciada da outra. A riqueza de conhecimento e sabor pode estar presente em nossas vidas urbanas, se a valorizarmos. O Seu Bené e sua farinha é o bom exemplo.
Foi em um congresso de gastronomia que o Carlo Petrini,  presidente do Slow Food, entidade internacional que se organiza mundialmente por uma comida boa, limpa e justa para todos, desvendou o seu Bené. Ao falar, no encerramento do evento, ele disse algo como "muitos dias aqui falando de como conhecer e proteger produtos quase extintos por falta de reconhecimento e o Seu Bené, lá fora, levando de volta para o Pará quase toda a farinha que produziu para apresentar a vocês..". Pronto. Bastou para que o seu Bené voltasse leve para Bragança, cidade onde mora.
O ser humano é assim mesmo, vai aprendendo por atrito e deslizamento, mas o mais importante de tudo é que hoje já é possível comprar farinha do Seu Bené aqui mesmo em São Paulo. Há anos atrás, trocávamos essa farinha entre cozinheiros como quem sabe bem a figurinha carimbada que achou e precisa dividir com os melhores amigos. Hoje, fruto de uma tendênca mundial e bastante trabalho de alguns, a Suzana me comprou farinha do Seu Bené em um mercado de São Paulo. Ok, mais gente tem acesso. E, já, já outros mercados também vão se interessar em ter também nas suas prateleiras vários produtos que têm tanta história para contar, quanto sabor a apresentar.
A minha fiz como farofa frita na guee e azeite bem crocante com castanha do para, queijo coalho e pimenta da boa; recheei abobrinhas e comi com leite de coco. Mas é só o começo porque as possibilidades são muitas.
Ninguém melhor do que o Seu Bené para contar um pouco do que estou falando...repara no " sou apaixonado pela lavoura"...isso se traduz em sabor.


sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Sorvete: alegria possível



Muito calor, na minha vida toda, sempre combinou com água e sorvete. A brincadeira com água, em um país onde água e abundância andaram de mãos orgulhosamente dadas por muito tempo, acabou. A irresponsabilidade de poucos gerou o caos para muitos. Mas, vamos ao sorvete porque esse assunto é difícil demais e a receita da responsabilidade em relação a ele passou longe de quem poderia ter feito alguma coisa e, mesmo assim, ainda não fez nada.
Enfrentar situações difíceis com alegria nos fortalece. Sorvetes costumam ser uma alegria. Então produzi este aqui, na intenção de dividir uma pequena alegria.
Se você mora em São Paulo, repare como as mangueiras e os abacateiros da cidade estão carregados. As minhas mangas vieram da feira porque estavam maduras demais e muito baratas. Me bastaram duas (uma keiti e uma palmer), que descasquei e bati puras no liquidificador formando um creme espesso. Tinha quase nenhuma fibra e, então, não coei. Mas, se as suas forem as da mangueira da rua, coe.
Resisti em colocar açúcar - porque já são tão doces -, mas não tem jeito. Os cristais de açúcar são importantes para ajudar a abaixar a temperatura, na etapa posterior. Mas, como disse o Pedro, meu filho, e consultor para assuntos de sorvete, o grande lance do sorvete é você ir batendo enquanto gela, para que os cristais fiquem cada vez menores até desaparecerem. Já invetaram isso: chama-se sorveteira mas, se você, como eu, não tem uma, coloque a sua mistura no congelador, em um bowl de inox, e mexa cada vez que começar a congelar das paredes do bowl para dentro da mistura, quebrando os cristais de gelo.
No meu sorvete, coloquei arriscadamente só 70 gramas de açúcar para as duas mangas, que caramelei com um pouco de água batida com gengibre e erva-cidreira. Fiz uma calda muito espessa. Esperei esfriar e misturei ao purê de mangas junto com  285 gramas de creme de leite Bakis. E...tempo de espera no congelador. Quando começar a congelar as beiradas, misture e bata, volte ao congelador; congelou, misture e bata; de novo e de novo até chegar no sorvete cremoso.
Só exige dedicação, difícil não é. Mas e a alegria de no meio da tarde quente servir o seu próprio sorvete? Delicioso e muito gelado? Fica a dica para o seu final de semana. Se tiver criança pequena em casa, um balde cheio de água ainda pode multiplicar a alegria. Sorvete feito em casa saboreado dentro do balde. Memórias boas que vão construir força, com certeza. Bom sorvete.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Salada para o calor



É difícil cozinhar e comer com esse calor...eu só quero fruta e suco, suco, fruta e, no máximo uma salada!Foi assim com essa salada hoje na hora do almoço. E não é que ficou bem legal? Macarrão de arroz cozido na água com cúrcuma mais vagem, palmito, gengibre, cenoura, tomate cereja, alface e os cogumelos que estavam prontos e entraram de gaiatos no navio da minha receita. Poderiam ser crus mas no caso, já estavam cozidos. E tudo junto, funcionou. O segredo é temperar muito porque o bifun é prá lá de neutro. Então capricha no molho de gengibre, limão, shoyu e mel.
Acabou se transformando em refeição. Fria. Como tudo de bom que se possa imaginar diante de temperaturas tão exageradas como as atuais.

Salada de biffun com queijo frescal Balkis

Ingredientes
50 gramas de bifun (macarrão de arroz)
1 colher de sobremesa de cúrcuma (açafrão da terra)
250 gramas de palmito
1 cenoura
100 gramas de cogumelos
6 vagens finas
4 tomates cereja
4 folhas de alface
queijo minas frescal Balkis (quanto baste)
gengibre (q b)
limão (q b)
molho de shoyu (q b)
mel (q b)

Modo de Preparo
Higienize todos os ingredientes
Dissolva a cúrcuma em uma panela com água e cozinhe o macarrão de arroz. Escorra, passe no azeite e resfrie.
Corte a vagem em pedaços pequenos e passe-as em azeite e sal rapidamente para que fiquem macias. Reserve.
Corte os cogumelos em fatias finas, os tomates ao meio, o palmito em fatias e rale a cenoura no ralo grosso. Reserve.
Corte as alfaces em tiras. Reserve.
Corte o queijo minas frescal Balkis em cubos. Reserve.
Faça o molho com shoyu, limão, gengibre ralado e mel.
Depois de frio corte o macarrão em cubos grandes. Misture todos os ingredientes e tempere com o molho. Sirva frio junto com as alfaces.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Chipa com as crianças



As crianças adoram inventar. E você que as tem em casa, às vezes, não sabe o que mais inventar. Como é férias, a urgência na "invencionice" tende a aumentar. Aqui vai a uma dica: fazer chipa! Simples, rápido e muito eficiente.
Para quem não sabe, a chipa é um biscoito paraguaio em forma de ferradura bem parecido com o nosso pão de queijo. A diferença é que é feito somente com polvilho doce e que não se escalda o leite e o óleo. Aliás, nessa receita o óleo nem entra. É mais simples de fazer e igualmente gostoso. Por algum motivo que desconheço, no Brasil, a chipa é mais conhecida no Goiás mas em São Paulo é comercializada em algumas padarias e supermercados.
Junte a criançada na cozinha, misture os ingredientes para eles em uma bacia, convoque várias mãozinhas para sovar a massa e fazer rolinhos. Arrume-os em uma assadeira sem untar e, - a melhor parte quando se trata dos pequenos - asse em um piscar de olhos. Diversão garantida, um lanche saudável, gostoso e vários pontos positivos no seu ranking: sociabilização, concentração e divulgação da cultura. E claro, o mais importante: no ranking do amor das crianças por você, serão muitos pontos acrescidos.

Chipa de queijo mussarela Balkis

Ingredientes
400 gramas de polvilho doce
500 gramas de queijo mussarela Balkis
180 ml de leite
100 gramas de manteiga
2 ovos
1 colher de sopa de fermento em pó
sal (quanto baste)
tomilho (q b)

Modo de fazer
Corte a manteiga em cubos. Reserve.
Desfolhe o tomilho. Reserve
Rale o queijo. Reserve
Misture o polvilho com a manteiga fazendo uma farofa.
Acrescente o queijo mussarela Balkis ralado, os ovos, o tomilho, o fermento e o sal.
Aos poucos acrescente o leite até obter uma massa macia que desgruda das mãos. A quantidade de leite depende da umidade do polvilho, então vá aos poucos.
Misture bem até a massa ficar macia e uniforme.
Faça bolinhas do tamanho de uma bolinha de ping-pong. Enrole a bolinha em um cone e depois afine as pontas. Dobre ao meio como uma ferradura. 
Coloque em forno pré aquecido a 180 graus até que dourem ( de 10 a 20 minutos)
Sirva quente

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Renovar a tradição


Meu descanso terminou no restaurante Sur, em Maceió, que tem pelo menos mais dois lugares obrigatórios: o restaurante Picuí, do chef Wanderson Oliveira, e o Wanchako com seus famosos cheviches peruanos. Mas, como o tempo é um só, consegui conhecer o Sur.
Exceto o Wanchako, as propostas do Sur e do Picuí são parecidas: a valorização dos ingredientes tradicionais locais. O queijo coalho figura entre eles, e foi a coisa mais legal que experimentei, tratado como  carpaccio. A proposta do restaurante é resignificar os ingredientes locais. Incluindo toda a diversidade de frutos do mar, peixes e carnes curadas no sal no mais puro estilo da chamada "cozinha contemporânea", na qual o conhecimento e técnicas disponíveis se aliam a serviço do ingrediente. E transformam o tradicional no novo, renovando a tradição. E a mágica acontece.
Com o queijo coalho com avelã e azeite verde foi assim. Não entendi a avelã, com tanta castanha de caju local, mas, licença poética a quem cria, era bom. O queijo coalho bem fininho recebe o calor do maçarico, doura e aquece. Era lindo, gostoso e encerrou minhas férias.
De volta para casa, a cozinha e o trabalho me esperavam.  É comum para quem está direto envolvido com algum assunto se esquecer como tem coisa linda de se ver no dia a dia. E, de repente, no meio do corre-corre do serviço, quando a Mariana foi maçaricar a torta de limão siciliano, eu parei e fiquei olhando o desenho do merengue aparecer enquanto o fogo rápido brincava com o açúcar. Parei tudo para apreciar a beleza de açúcares, que, quando em contato com a temperatura, caramelizam e aparecem em cor: no queijo coalho, no merengue e em tantas outras coisas.
Pena que acabei deletando um vídeo tosco que fiz da Mari em ação com o fogo e sua torta. Ao contrário da calma necessária para apreciar a beleza, na pressa de reconhecer imagens vi uma tesoura em cima de uma mesa no meu celular na abertura do vídeo e...lixo para ela. Bom, prometo melhorar! Mas, coisa bonita tem em todo lugar. Nas férias e no trabalho, repare bem!