Minha infância foi boa. Tive a oportunidade de correr atrás
do carrinho do algodão doce e escolher entre todas as cores de nuvens, minha predileta: era a branca mesmo.
A sensação de comer algo que não existia, de fato, sempre me
instigou. Era açúcar, sem dúvida, mas desaparecia no contato com a saliva como
em um passe de mágica. Os dedos grudavam nos fios de cabelo que por ventura
ventassem em direção à boca na tentativa de desfrutar, também, daquele momento incrível. Minha infância foi lotada desses pequenos
prazeres onde todo o universo se concentra em um único ato: comer algodão doce,
por exemplo.
Quando, estudando na escola descobri tudo do que o é possível realizar a partir de
açúcar e temperatura, o encantamento foi racional, mas estava ali. Lembrei que o
Ferran Adriá envolvia um peixe em flores e algodão doce e tive a certeza de que
ele também teve uma infância boa.
E, por puro acaso, outro dia comi queijo coalho com algodão
doce feito a partir de açúcar e aceto balsâmico (que, também tem muito açúcar
mascavo!). E, de novo, um espanto infantil se instalou no meu paladar. Era
ótimo! Não poderia supor que em volta da nuvem caramelo tinha um pedacinho de
queijo coalho. Felizmente vivemos na época da internet e aí está o vídeo que
explica o processo de fabricação caseira de algodão doce. A sujeira é
garantida, mas a diversão também. Vou
esperar minha pequena Marina crescer mais um pouquinho e, sem dúvida, a
brincadeira vai acontecer entre duas colheres de pau, um livro e um garfo, ou um fouet
velho. Se você experimentar primeiro, me conta. E não esquece de forrar o chão
e a bancada também. O grude é grande.