Na semana passada trabalhei para realizar o sonho de duas pessoas queridas que queriam se casar. Trabalheira infinda, mas sempre recompensada. A noiva locou um restaurante que é uma graça, montamos o picadeiro e a lona e fomos firmes no intuito de transformar a comida em parte importante no rateio da alegria.
Estava indo tudo bem até que dois convidados chegaram na porta da cozinha dizendo querer falar com o responsável. Rapidamente me coloquei `a disposição.
Eram um senhor e um jovem. Perguntaram a respeito do quibe de pinhão com iogurte e pesto de hortelã. Tinham um ar tão sério que me preocupei. Algum problema com o quibe, algo que estivesse do desagrado deles? O senhor, muito sério, me perguntou o que era aquilo e reafirmei o que os garçons já tinham anunciado. Me disse que era perigoso que eu servisse aquela comida e todas as outras. Quis saber o porque e ele abriu um sorriso de lado a lado e disse que o perigo era que as pessoas comessem demais. E que ele tinha se lembrado da infância quando escutou, pela primeira vez na vida, o estouro de uma pinha da araucária espalhando pinhão por todo o terreno do sítio de seus pais, lá em Minas. Relaxei e sorri também. Era um elogio, meio atrapalhado, mas ele estava se divertindo. E o jovem ao lado? Ele entendeu que, para mim, ele ainda era uma incógnita e disse, já um pouco alcoolizado: "eu só vim beijar a cozinheira e pegar a receita". Ri também, agradeci o elogio e disse que a receita estava lá no site da Balkis. E voltei correndo para meus ramequins vermelhos, que eram a bola da vez.
No meio do furacão, um velhinho gentil louco por um dedo de prosa e um jovem com algumas taças de vinho a mais atrás de uma receita suspendem o ritmo da produção do serviço de um casamento para lembrar a cozinheira por que é mesmo que ela cozinha...
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