quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Doces, beleza e gastronomia


Faz meses que ela me diz "você TEM que ir na mercearia comigo, comer o bolo de chá verde e conhecer a Juju e a Grace". A Talita é especialista em dicas bacanas, e não fui antes porque tudo tem a hora certa. E, na tarde insuportavelmente quente e grudenta que uma cidade sem praia e montanhas ocupadas pelos imóveis pode propor aos seus cidadãos, eu fui. Foi um mergulho em um universo paralelo onde o tempo parou para que, o que realmente importa na vida, acontecesse: quando entrei na Mercearia com a Marcela e a Talita demorei um pouco para entender o lugar e o que acontecia dele. O lugar é mínimo, o jardim é mágico. Uma única mesa com dois bancões e uma cadeira embaixo de muitas plantas que filtram a luz da tarde acolhem, também, os comensais. Que sentam ali como se estivessem na varanda de suas casas, com amigos de longa data a falar das coisas da vida, escutar histórias de um outro tempo com atenção, compartilhar coisas essencias com pessoas que você nunca viu na vida- e talvez nunca volte a ver - mas que estão sentadas ao redor da mesma mesa e lhe são muito familiares naquele momento. Esse é o"mandrake" essencial da comida. Que está um pouco esquecido mas que nos torna iguais e mais humanos. E que, quando acontece é pura mágica. A Grace trabalhou 15 anos no Japão em um restaurante mexicano e preza a beleza e a qualidade essencial dela. Preza principalmente a energia e cuidado com que seus fornecedores trabalham e produzem maravilhas. Os doces, entregues diariamente pela própria confeiteira, são a expressão maior do enfoque da Grace. Só olhar para eles, satisfaz. Comer deles é luxuoso. E o que acontece em volta, enquanto a alta gastronomia se apresenta diante de você é uma experiência e tanto. Saí de lá conhecendo a Cris Makibuchi (confeiteira), a Lili (dos biscoitinhos), o Abelhudo (do mel) e mais uma turma à qual a Grace se refere com admiração e carinho: são parceiros. Jea vi a Cris chegando as 6 da manhã com suas pavlovas, bolos de machá e chocolate, tortas de manga floridas, tamanha empolgação da Grayce contando admirada do compromisso e seriedade de seus parceiros. Não consigo imaginar, em São Paulo, um outro lugar capaz de oferecer doces de tão alto nível a preços acessíves como lá. DA minha primeira vez foi o de machá e o de chocolate. No dia seguinte voltei para a torta de manga. Que preciso contar a história se você ainda não captou o "espírito da coisa". A Grace me disse que iria guardar uma,para eu experimentar. Me comprometi a voltar no dia seguinte. Mas, quando você sai de lá, a dobra no espaço-tempo se desfaz e a volta para o mundo "oridinário" se impõe. No dia seguinte, a vida propos outras coisas e me vi diante da possibilidade de não conseguir ir. Preocupada, liguei para a Talita e pedi para ela avisar a Grace que, talvez, não desse prá cumprir o combinado. Mas, deu. Passei esbaforida para cumprir a inha palavra e beber um pouquinho mais daquele universo paralelo. Quando cheguei, encontrei o jardim lotado, a conversa animada e nenhuma cadeira para sentar. Entrei procurando a Grace e de lá de dentro ela me disse:"Te liguei! Tem gente pagando o dobro do preço pela sua torta de manga! É a última, e tive que dizer muito que ela estava reservada para você! Ainda bem que você veio!" Alguém no jardim levantou para que eu sentasse, a Grayce veio com a torta anunciando que eu era a dona do doce mais cobiçado do momento, todo mundo riu de mim, prometi dividir a iguaria com um pouquinho para cada um. A Grace me troxe chá gelado em seus maravilhosos copinhos e a festa se fez, mais uma vez. O endereço, anota aí: Wa, Mercearia. Rua Alves Guimarães, 286, Pinheiros. E do melhor ainda não falei: se chama Juju. Te oferece chá e esperança. Vai lá. Depois me conta se o mundo não é uma experiência incrível e a vida muito generosa?

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