segunda-feira, 25 de julho de 2011

Era uma vez...

Imagine: um jantar para 12  mil pessoas. Imaginou? Ótimo! Continue imaginando: o mesmo jantar, com cardápio super diversificado no qual cada convidado come exatamente o que gostaria naquele dia. Difícil, não é?
Some a essas duas características a qualidade de todos serem amigos, sentarem-se ao lado de pessoas queridas, divertirem-se muito, com comida e bebida muito boas.
Ah, o ambiente! Imagine: chique. Mas um chique que não é pernóstico nem esnobe, apenas chique pela própria natureza do lugar. Com música boa e ao vivo e lugar à vontade para dançar, caso você queira.
E lugar à mesa para todos. E toalhas e guardanapos brancos para todos. E flores brancas para enfeitar. E cada convidado se veste como quiser desde que use roupa branca. No final da tarde com a maravilhosa luz de verão. E ao anoitecer, que cada um tenha uma estrelinha, daquelas que as crianças ganham no São João, e uma vela para acender em sua mesa. E acendam juntas suas estrelinhas e embelezem mais ainda a festa.
Ah, e quando a festa acabar, já imaginou a trabalheira? Muita?
Já desistiu só de pensar no dia seguinte e no batalhão de gente na limpeza e organização? Dá medo só de pensar, né? Então imagine que em um passe de mágica a festa acabou sem deixar vestígios. E aí, topa fazer essa festa, se for assim?
Se você conseguiu imaginar isso está convidado a, no mínimo ,assistir a comprovação de que isso não é um sonho. É o ‘diner en blanc’ a festa parisiense que vem crescendo ano a ano, se realiza em meados de junho em Paris (Nova York e Toronto estão copiando o modelo para organizar as suas). Este ano já aconteceu, na praça em frete a igreja de Notre Dame, e no pátio interno do museu do Louvre.
Funciona assim: o local é secreto até o último momento. Os organizadores se encontram, em local também secreto, e determinam aonde vai ser. Como um rastro de pólvora a notícia se espalha para os convidados que já estão a postos, apenas esperando o comando para saber para onde ir. E então,  carregando a própria mesinha, toalha e guardanapo brancos, utensílios, comida e bebida, a multidão aflui rapidamente para o local. Aí, é montar a própria mesa ao lado de outras e desfrutar: de estar vivo, do que a terra dá, da inteligência em transformar tudo em comida e bebida, de companhias agradáveis, da boa música, da beleza do lugar e da maravilhosa sensação de fazer parte. Dançar, comer, beber, compartilhar e ainda acender luzes coletivamente em um verdadeiro ritual de elegia à vida.
Até meia noite. Quando tudo acabar, as pessoas juntam os seus pertences e voltam para casa felizes da vida. Sem stress e sem deixar rastro. Parece sonho, mas é realidade. Quem duvidar é só assistir comprovar (a reporatgem é da tv francesa, em francês, mas vc vai entender tudo):


A tradição continua. Mas quanta diferença entre os banquetes da monarquia francesa dos séculos passados e os atuais... Além do que, a monarquia era o regime estabelecido e o diner em blanc é ilegal... E como quer parecer um sonho, cada participante tem a perfeita consciência de que não pode deixar rastros: nada de papel no chão, garrafas jogadas, não, não, nada disso!
A França é conhecida como o país dos queijos ...Por analogia, eu, como mediadora desse site de queijos incríveis, imagino que se começarmos a ocupar os nossos espaços públicos com simples piqueniques, um dia teremos uma coisa assim! Quem topa?