domingo, 15 de dezembro de 2013

Panettone

O primeiro panettone ninguém esquece. O meu, foi há uns cinco anos atrás, e me deixou orgulhosa. Trouxe para casa um panettone feito por mim mesma para partilhar a proeza com a família. Comemos cortando os pedaços com as mãos enquanto falávamos de outros panettones e de outras formas de comê-los. Ficou a memória positiva do pão mais característico da natal feito e saboreado fora de sua data convencional. No natal do mesmo ano quis presentear meus alunos com outros iguais àquele primeiro, só que minis. Ficou bonito e gostoso, mas não era aquilo tudo, como o da primeira vez. Frustei e abandonei o projeto. Há algumas semanas atrás no meio do trabalho eu e meu parceiro falamos de fazer panettone e descobrimos dividir a mesma intenção: um panettone sem essência de panettone, com frutas de verdade ao invés das chamadas cristalizadas que não têm gosto de nada. Queríamos um panettone que não durasse 8 meses e que estragasse logo, se não consumido enquanto estivesse fresco e úmido. Para presentear os amigos. Achei que não ia rolar pois o volume de trabalho não anda dando brecha para o deleite. Mas, não é que no meio da semana apareceu um evento em que o panettone teria espaço? Alegria! Nem pensamos duas vezes e o Marcelo trouxe um levain (que é um fermento natural), alimentado por ele mesmo e que só faltava falar. Fizemos o panettone com levain natural, sem essência de panettone, com água de flor de laranjeira ao invés de essência de laranja e com frutas secas (uva, manga, figo e crawberry)! Dos grandes e dos minis. E a massa era um espetáculo a parte. Nunca vi um véu de massa tão lindo. Cobria as frutas com requintes de delicadeza e brilho deixando-as perfeitamente visíveis, encobertas, porém, pela seda finíssima do véu da massa. Uau! Ficou lindo demais. Demorou umas tantas horas para crescer por conta do levain: fermento natural tem seu próprio tempo, o tempo do crescer que esperamos com alegria. E quando saiu do forno, confirmou todas as nossas expectativas. Uns, disseram que panettone sem essência de panettone é pão de frutas. Outros, que panettone era imexível. Mas todos concordaram que estava muito bom. No dia seguinte fiquei curiosa para experimentar, mas a trabalheira foi grande e o tempo encurtou. Ontem, de novo. E hoje, finalmente abri aquele que me coube, dos pequenos. Já não era o mesmo de três dias atrás: um pouco mais seco como era de se esperar (sem conservantes, com levain, vivo, em permanente transformação). Mas ainda assim, bom. Comi com queijo cremoso e geléia, feliz da vida: as boas coisas têm tempo próprio mesmo. Se for de comer e não estragar, boa coisa não é!