A Talita querida me enviou o link do filme “Muito além do
peso”, da diretora Estela Renner, que só consegui assistir por partes. Além de todos os horrores que estão
lá, o que mais me assustou foi ver as crianças não terem a menor ideia do que
seja uma batata, um pimentão ou um abacate. As frutas que se tornaram
caixinhas açucaradas. Consumidoras ferozes de salgadinhos, refrigerantes e
outras porcarias afins, que as adoece em massa, nossas lindas crianças estão à
mercê de uma mídia sem escrúpulos onde o lúdico deixa de ser lúdico e se
transforma em assunto de gente grande e irresponsável: dinheiro ilícito. Por
que, prá mim, dinheiro ganho à custa da ignorância e saúde alheias é caso de
polícia. A lógica é simples: quanto maior a ignorância sobre os produtos
alimentícios veiculados, ignobilmente associados a brinquedos e personagens
amados pelas crianças, melhor! A mais escrachada forma de tráfico de drogas que
não está só na cantina da escola, mas incutida no inconsciente das nossas
crianças, dentro de suas casas, geladeiras e armários. Pais ignorantes serão os
compradores e realizadores dos desejos plantados em seus filhos pela mídia.
Disso, eu já sabia. O que eu não sabia é que o universo
cultural e afetivo das crianças está sendo progressivamente privado do
conhecimento material dos alimentos. Imagine que daqui alguns anos a maioria
das crianças, que depois serão adolescentes e depois adultos,não conheça mais
legumes e frutas. Que só comam comidas industrializadas. Que o universo afetivo
em relação à comida não tenha mais famílias sentadas á mesa e aromas gostosos e
diversos preenchendo a casa...Socorro!
Por essas e outras ainda é que escrever aqui toda semana
falando de coisas simples como comida de verdade, feita com ingredientes que
cheiram, passam de um estado a outro, tem sabor, precisam de tempo, dedicação e
inteligência para serem preparados, tornou-se um ato de resistência. Como disse a
Alice Waters, nós cozinheiros, precisamos de muita coragem.
A Balkis garante o espaço para que possamos resistir com
nossa teimosia em tirar o bolo do forno, escolher ingredientes fresquíssimos e
saborosos para a papinha dos bebês,
brincar de fazer pão com as crianças, derreter o queijo com a farinha de milho,
transformar a cozinha em lugar de cores da vida, respeito, aprendizado de ética e amor. Ainda bem que
existem empresas familiares, vindas de pessoas de verdade, que tinham refeições
povoadas de histórias e comidas feitas com carinho. O futuro há de ser delas
para que o ser humano continue no seu lindo caminho de evolução. E para que a
infância não deixe nunca de existir. E para que o tecido social não enlouqueça
de vez.
Veja o filme e passe prá frente. Quem sabe você conhece algum pai/mãe que não
tenha noção do que está dando para seus filhos comerem...será um/uma a menos!