quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Muito além do peso e de tudo mais...




A Talita querida me enviou o link do filme “Muito além do peso”, da diretora Estela Renner, que só consegui assistir por partes. Além de todos os horrores que estão lá, o que mais me assustou foi ver as crianças não terem a menor ideia do que seja uma batata, um pimentão ou um abacate. As frutas que se tornaram caixinhas açucaradas. Consumidoras ferozes de salgadinhos, refrigerantes e outras porcarias afins, que as adoece em massa, nossas lindas crianças estão à mercê de uma mídia sem escrúpulos onde o lúdico deixa de ser lúdico e se transforma em assunto de gente grande e irresponsável: dinheiro ilícito. Por que, prá mim, dinheiro ganho à custa da ignorância e saúde alheias é caso de polícia. A lógica é simples: quanto maior a ignorância sobre os produtos alimentícios veiculados, ignobilmente associados a brinquedos e personagens amados pelas crianças, melhor! A mais escrachada forma de tráfico de drogas que não está só na cantina da escola, mas incutida no inconsciente das nossas crianças, dentro de suas casas, geladeiras e armários. Pais ignorantes serão os compradores e realizadores dos desejos plantados em seus filhos pela mídia.
Disso, eu já sabia. O que eu não sabia é que o universo cultural e afetivo das crianças está sendo progressivamente privado do conhecimento material dos alimentos. Imagine que daqui alguns anos a maioria das crianças, que depois serão adolescentes e depois adultos,não conheça mais legumes e frutas. Que só comam comidas industrializadas. Que o universo afetivo em relação à comida não tenha mais famílias sentadas á mesa e aromas gostosos e diversos preenchendo a casa...Socorro!
Por essas e outras ainda é que escrever aqui toda semana falando de coisas simples como comida de verdade, feita com ingredientes que cheiram, passam de um estado a outro, tem sabor, precisam de tempo, dedicação e inteligência para serem preparados,  tornou-se um ato de resistência. Como disse a Alice Waters, nós cozinheiros, precisamos de muita coragem.
A Balkis garante o espaço para que possamos resistir com nossa teimosia em tirar o bolo do forno, escolher ingredientes fresquíssimos e saborosos para a  papinha dos bebês, brincar de fazer pão com as crianças, derreter o queijo com a farinha de milho, transformar a cozinha em lugar de cores da vida, respeito,  aprendizado de ética e amor. Ainda bem que existem empresas familiares, vindas de pessoas de verdade, que tinham refeições povoadas de histórias e comidas feitas com carinho. O futuro há de ser delas para que o ser humano continue no seu lindo caminho de evolução. E para que a infância não deixe nunca de existir. E para que o tecido social não enlouqueça de vez.
Veja o filme e passe prá frente.  Quem sabe você conhece algum pai/mãe que não tenha noção do que está dando para seus filhos comerem...será um/uma a menos!

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Nova feirinha gastronômica e flor de curry


A boa notícia é que São Paulo ganhou uma feira gastronômica permanente, na Vila Madalena, zona oeste, de caráter experimental para os participantes. Ao contrário da protagonista dessa história, agora amadores e não estrelados podem se inscrever e participar. Achei a ideia genial por que o paladar das pessoas vai se aprimorando e exigindo melhores desempenhos. E, além de cozinheiros sem estrelas terem a chance de apresentar seus trabalhos para um público maior,  quem ainda está se formando e pretende entrar para o mercado regular tem , obrigatoriamente que melhorar o nível. Bom para todos! A feira acontecerá a partir do dia 17 de fevereiro, sempre aos domingos, na Vila Madalena. Os cozinheiros devem se inscrever para participar.
Ganhei de presente um queijo da Serra da Canastra enviado lá de Arcos, Minas Gerias, pelo meu amigo e colega de cozinha, Denis. Já tentei falar com ele por telefone, mas não consegui. Queria contar que, além de ter ficado super feliz com o presente , ele  teve o poder de me teletransportar para uma infância muito longínqua  Eu não tinha mais do que 4 ou 5 anos, e amigos dos meus pais moravam em Tupã, interior de São Paulo, onde tinham um laticínio. E, além de queijos pendurados por toda a cozinha, minha lembrança acordou vivamente quando um pedaço do queijo do Denis foi parar na frigideira. Havia tempos que não sentia aquele mesmo cheiro, com o queijo derretendo um montão e fazendo uma casquinha. Obrigada, Denis, querido, pela lembrança com duplo sentido! Parece que está sendo revista a legislação sobre queijos crus e sua circulação pelo país. Ganha todo mundo, por que, como no caso da feirinha gastronômica, quanto mais circulam coisas diferentes mais se aprimora o paladar de quem come. E, produtores e consumidores, todo mundo sai ganhando.


E não posso deixar de dizer que curry dá flor e, aquela muda que ganhei do Pedro e que plantei na rua, em frente de casa, floriu. Vira e mexe o pessoal aqui dizia que "coitadinho do meu curry, tava encroado". Acontece que eu conseguia muito bem ver que ele não estava nem um pouco coitadinho  e que com essa chuvarada iria deslanchar. Não só deslanchou como me devolveu flores de presente por acreditar tão fortemente nele!
E, aí estão a minha versão totalmente pessoal de idlis, feitos com pó indiano, folhas de curry da minha rua e, se os indianos soubessem como é bom, também os recheariam com queijo. Boa semana prá todo mundo!