terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A Bahia, estação primeira do Brasil



Imagine uma praia paradisíaca com o mar em cinco ou seis tons de azul e verde tudo junto e ao mesmo tempo. De águas quentes, espelhos d´'água a perder de vista, céu escandalosamente azul durante o dia e um mar de estrelas à noite. Perdida em uma aldeia de, no máximo, umas 600 pessoas. Com uma brisa permanente. Onde seu tempo dá prá tudo que você pretende e também para o que não pretendia, mas se apresentou e você resolveu experimentar. E aí, de repente, no meio do nada surge uma baiana do acarajé, sentadinha atrás do único bar da imensa praia e você sai de lá com o melhor acarajé da sua vida enrolado em papel de pão cor de rosa, senta na beira do mar que mais parece um ofurô, olha prá isso tudo e pensa: " o paraíso é aqui". Come e segue em frente. Então, esse lugar existe! Acabei de chegar de lá.
Foi inevitável pensar na música do Caetano Veloso e na impressão dos portugueses quando chegaram na "Bahia, estação primeira do Brasil". Segundo o Tadeu, os portugueses já tinham cartografias detalhadas e extremamente precisas da costa brasileira anteriores ao "descobrimento". O grande nome em relação à isso é do geógrafo Duarte Pacheco Pereira. De qualquer forma, deve ter sido uma forte impressão, como continua sendo até hoje. Prá todos nós, inclusive brasileiros.
Os portugueses levaram e trouxeram ingredientes e influências indígenas e a força dessa troca está aí. Ficamos hospedados na pousada de um casal de espanhóis que se deslumbraram com o lugar. Ele vendeu o restaurante em Madri e veio cozinhar aqui. O café da manhã dele eram tapas espanhóis, o que vale dizer  comidinhas sem fim: mandalas de frutas secas e frescas, batata doce e inhame cozidos com azeite espanhol - por supuesto -, molho de tomates frescos, pães, banana da terra frita na manteiga, vários tipos de queijos, bolos, cuscus de milho com coco e leite de coco feito com ingredientes do quintal, jamon espanico, ovos, geléias e pasta de tahine, manteiga, pedaços de chocolate artesanais de cacau da região, sucos de cacau, cupuaçu, água de coco, cacau quente, guacamole, queijo cottage com cenoura e tomate, tomate com orégano...não lembro de tudo. Era uma megacomilança. E, depois de caminhar e se fartar do  paraíso, eu voltava e almoçava as comidas maravilhosas que ele preparava. A Amaya, sua esposa, sabendo que eu sou vegetariana, me indicou correr praia acima atrás de um teto de sapé e procurar pela vizinha holandesa , Elisabeth, que me preparou uma quínua maravilhosa com batata doce assada. Gente, é tudo verdade. Os estrangeiros moram e cozinham neste lugar, num mixer maravilhoso de influências gastronômicas. Trazem seus ingredientes, se apropriam do que a terra oferece e de seus costumes e o resultado é puro amor. Criam seus filhos, que são todos brasileiros, constroem escolas junto com a população local onde têm estabelecido laços de profunda cooperação e amizade. 
Cheguei em Congonhas às sete da noite da segunda feira que parece ter sido o maior congestionamento dos últimos tempos da cidade de São Paulo. Minha filha linda foi me buscar no aeroporto e, no desviar dos muitos congestionamentos fomos parar na cantina "Cê que sabe", do meu querido Bruno Stippe, parceiro de panela e  de experiencias com os incríveis produtos Balkis. Que também tinha ficado preso no congestionamento esperando o guincho para rebocar seu carro... na despedida, dei para ele nibs de cacau que trouxe da Bahia junto com um isopor de polpas de prá festa de aniversário de um amigo...quer jeito melhor de voltar prá casa? Carregando coisas de lá prá cá?