Fechei ontem meu ano na cozinha profissional. De agora, até o final do ano, só converso com as minhas próprias panelas e o meu próprio fogão.Não que eu não goste do meu trabalho, bem ao contrário. Mas, como tudo na vida que tem saúde, tempo é um ingrediente fundamental para as coisas andarem bem.
Quem não é do ramo não sabe dos bastidores, e, neste final de semana, foi difícil trabalhar em São Paulo: a cidade estava em festa, e tive que locar os talheres em um lugar, as taças em outro, ir eu mesma buscar o fogão e o forno em outro ainda, porque a terceira locadora não tinha condição de entregar...
Tudo faz parte: o primeiro prato, que teve que ser reinventado momentos antes de ser servido, porque não aguentou o calor e o abre e fecha da geladeira ou sei lá o que; as quenelles do sorbet de rosas sendo feitas dentro do freezer pelo Marcelinho para serem viáveis; as contradições do final de uma semana de produção cheia de imprevistos, que terminou quando abri a porta de saída e senti o beijo fresco da noite que acalmou o calor de dentro da cozinha, com forno e fogão funcionando a muitos graus centígrados.
O perfume do jasmim na noite me trouxe a sensação de refresco que, às vezes, só o distanciamento pode dar. O devido tempo. O abaixar da temperatura, antes de amarrar de novo o cabelo dentro da bandana e o avental na cintura.
Tô de férias. Para cozinhar comidas simples junto com a minha filha mais velha, comer por aí alguma coisa que algum cozinheiro dedicado fizer e servir, esperar minha filhota mais nova chegar de uma viagem e partir para outra, ler meu livro, ter boas idéias, ver coisas bonitas, ficar com a pequena Marina para ajudar o Pedro e a Kelly, que precisa transitar de volta para o trabalho no final da licença-maternidade (como ela ainda é curta e cruel neste país!), poder curtir meu marido e encontrá-lo acordado no mesmo horário que eu, fazer ioga, dar de comer prá alma.
Tô de férias. Para cozinhar comidas simples junto com a minha filha mais velha, comer por aí alguma coisa que algum cozinheiro dedicado fizer e servir, esperar minha filhota mais nova chegar de uma viagem e partir para outra, ler meu livro, ter boas idéias, ver coisas bonitas, ficar com a pequena Marina para ajudar o Pedro e a Kelly, que precisa transitar de volta para o trabalho no final da licença-maternidade (como ela ainda é curta e cruel neste país!), poder curtir meu marido e encontrá-lo acordado no mesmo horário que eu, fazer ioga, dar de comer prá alma.
O final do meu ano profissional teve belezas, como o sorbet de rosas e as tartelletes de abóbora, queijo e azeite de ciboullete. Como já disse o poeta, "tudo vale a pena se a alma não é pequena". Agora, é tempo de parar. E o tempo engrandece a alma.