sábado, 27 de outubro de 2012

Alcachofras, flor e fogo



Ainda bem que a Terra gira em torno do sol. Claro que sem isso tudo seria muito diferente, mas eu adoro quando o giro chega, de novo, na época das alcachofras. Engraçado como quando a gente é criança fixa um certo tipo de conhecimento junto de uma emoção e vai embora com elas vida afora. Assim é comigo e as alcachofras: lembro do cheiro das flores cozinhando no molho de tomate dentro da panela de ferro grande da minha mãe. E da família reunida comendo flores. No meu universo infantil aquilo era engraçado e muito aconchegante. Sentia um misto de alegria, leveza e confiança na vida que ficaram fortemente impregnados em mim e definitivamente associados às alcachofras.
E hoje, conversando com o Sérgio, ele me contou do livro que está lendo e que associa muito da evolução dos antecessores da espécie humana ao começo da atividade de cozinhar os alimentos. Que foi depois da descoberta do fogo propriamente dito. Imediatamente lembrei delas, as alcachofras. Segundo o Sérgio, o autor do livro proclama que o cozimento dos alimentos aumenta significativamente a absorção dos nutrientes  pelo organismo em contraponto aos alimentos crus.  Os crugíveros  sustentam que a ação do fogo destrói a energia vital dos alimentos e que, portanto, devem ser comidos crus. Mas, essa é a natureza humana: descobre coisas contraditórias o tempo todo, se agarra a elas, constrói teorias e comportamentos e segue a vida.
Simplificando as coisas é o seguinte: aproveite que a Terra chegou no tempo delas, que já dominamos o fogo que cozinha as alcachofras e divirta-se comendo flor! Com quínua e queijo que nem eu, com pão, com molho com o que seu banco de afetos e memórias tirar da cachola. E se não gosta delas, experimenta de novo! Quem sabe o encanto vem dessa vez.