sábado, 5 de maio de 2012

Virada Cultural: a arte de comer

Ao contrário do ambiente bucólico e silencioso em que estive cozinhando na semana passada, neste final de semana pretendo me enfiar em um barulhento e, provavelmente, alegre e tumultuado evento: a Virada Cultural, em São Paulo. E a novidade deste ano é que, finalmente, os cozinheiros se apresentam junto com os músicos, bailarinos, atores, artistas plásticos e toda sorte de gente boa que produz, ou ao menos pretende produzir, como nós, beleza!
A iniciativa veio na esteira do megasucesso, há duas semanas atrás, do "Mercado" na madrugada, onde vários chefs e cozinheiros se juntaram para vender, a partir de 0 horas de sábado, comidinhas a preços muito acessíveis. A ideia é a mesma: e o preço máximo do que vai ser vendido é 15 reais. A Virada Cultural tem levado às ruas de São Paulo uma imensa população ávida por assistir, cantar, observar, participar, construir e se apropriar da cidade e de sua eferverscência cultural. Cada vez a quantidade de gente que aflui ao evento se torna absurdamente maior apontando que São Paulo deveria promover não uma Virada Cultural, mas uma programação de rua contínua ao longo do ano todo,  para que seus cidadãos possam ter esse bem como identidade, e não só a poluição, o trânsito etc etc etc...
E os cozinheiros saíram na frente:  o "Mercado" está aí uma vez por mês. Chegaram depois na Virada, mas antes, naquilo que a Virada deveria se tornar. E, o que é melhor: vão ocupar a mais horrorosa e cruel invenção urbanística da cidade: o Minhocão. E quando , no próximo domingo, os moradores da região abrirem as suas janelas, vão sentir cheiro de fumaça. Mas, não dos carros, e, sim, dos fogões de chefs estrelados e cozinheiros apaixonados pelo que fazem, levando suas criações para muita gente a preços acessíveis. Não perca: domingo, dia 6 de maio, das 8 às 20hs, a inteligência e a beleza vão ocupar o Minhocão. E você pode experimentar delas! Depois que voltar, posto a foto. Boa comilança prá todos nós!

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Silêncio nas refeições



Meu feriado foi de muito trabalho. Teve dias de 14 horas em pé e dor nas costas. Mas nenhum momento de arrependimento. Só alegria. Fui cozinhar para um grupo de ioga que estava fazendo uma prática de silêncio. Ficaram quietos por 4 dias. E comiam nas refeições o que a turma da cozinha servisse. Sem comentários. 
Foi uma experiência diferente para mim, por dois motivos. Primeiro, por ver as pessoas comendo em silêncio e imaginar se elas estavam adorando, odiando ou indiferentes às nossa invenções. Segundo, por estar, literalmente,  em uma cozinha cercada por temperinhos, ervas aromáticas, flores comestíveis para decoração dos pratos e uma natureza exuberante, fruto do trabalho de permacultura do Pete e da Bel. Não foi a minha primeira vez nessa cozinha, mas fazia tempo que não ia lá. Que beleza o resultado da inteligência no diálogo com a terra para realizar a máxima do "em se plantando tudo dá"! Vou voltar para fotografar a "horta lasanha" do Pete e mostrar para vocês. Trata-se de uma forma de plantio que dispensa a terra e utiliza apenas adubo orgânico e  palha em camadas, como uma lasanha mesmo. Na última camada, se abre um buraquinho para jogar sementes, que, como em um truque de mágica, se transformam em alfaces, salsinhas e couves verdes, saudáveis e lindas. Não tive tempo para a foto, a trabalheira foi demais, mas prometo voltar para uma conversa e imagens da horta.
E, enquanto chovia e o silêncio e o frio reinavam lá fora, no nosso quentinho planeta cozinha nos divertíamos, produzindo uma comida atrás da outra. A  foto foi feita pelo Sérgio, que me socorreu na hora de postar. A receita da humita de milho está no site.
No final, me lembrei de um restaurante que tem em Paris, onde as pessoas entram vendadas  para experimentar no escuro o que lhes for servido. Aqui, era para experimentar caladas. Só falaram no último dia. O retorno foi interessante, pois ficávamos imaginando o que estava se passando. Gostaram da experiência de comer em silêncio, dos sabores e das arrumações das nossas produções, comeram mais do que de costume, e ficaram felizes com a nossa matraquice e alegria.