segunda-feira, 23 de abril de 2012

Aprender errando



Para mim, cozinhar é fácil. Difícil é fazer com que outros entendam o que estou querendo dizer quando se trata de algo tão específico. Considero escrever receitas  um grande desafio. Sou boa professora. Quando dou aulas, meus alunos assimilam o que quero ensinar, e tudo me parece natural: naturalmente eu ensino e naturalmente eles aprendem. Já, quando escrevo, por mais cuidado que possa tomar explicando minuciosamente o passo a passo de uma receita, sempre acho que interpretar é um exercício de imaginação. Pode ser que dê tudo certo e eu e o leitor cheguemos no mesmo lugar. Mas também podemos chegar em lugares muito diferentes...
Hoje tive a prova viva disso: a Marcela pegou, no site da Balkis, a minha receita de "bolo de abobrinha com ricota". É um bolinho leve, aerado, de execução muito simples. Uma das etapas era "pulsar" no liquidificador a abobrinha, para que ela ficasse pedaçuda. Pois, ela entendeu que era para transformar a abobrinha em suco. Foi o que fez. E, a partir daí, a receita virou outra coisa. Boa também. Mas, essencialmente outra receita. Foi corrigida com farinha de arepa (milho  pré-cozido). Diminuímos a quantidade de batatas por conta do efeito estruturante do amido, que já estava presente na farinha de arepa. E tiramos fora a farinha de trigo.
No fim, deu tudo certo, apesar de ter dado tudo errado. Criamos outra receita e mais caraminholas na minha cabeça. A  minha teoria se confirmou e vou mudar a receita lá do site. Ao invés de "pulsar" a abobrinha no liquidificador, melhor ralar no ralo grosso. Apesar de que até mesmo "ralar  no ralo grosso" pode dar margens a interpretações. Porém, menos...eu acho. E está provado: transformar a fluidez de ingredientes e temperos caindo dentro de uma panela em receitas reproduzíveis é mesmo um  grande desafio!