sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Hábitos e cozinha



Em uma discussão com amigos cozinheiros sobre temperos e ingredientes chegamos a conclusão óbvia: cada região do mundo constrói o paladar de acordo com sua geografia e o que aquele lugar oferece. O óbvio ficou interessante quando começamos a tecer idéias e verificamos que ingredientes iguais, em diferentes locais do mundo, são utilzados de maneiras muito diferentes.
Exemplo clássico: alho. Ninguém mais que nós, brasileiros, para usar tão indiscriminadamente e mal o alho. Super aromático e de sabor preponderante, o alho está praticamente em todas as panelas do fogão do brasileiro. No arroz, no feijão, nas carnes, peixes e aves, nas verduras, nos legumes e nos molhos!!! Tudo!
No começo no ano estive na Turquia e foi interessante sentir o aroma dos assados, espetos de carnes e peixes pelas ruas de Istambul: cheira erva e páprica. Muita hortelã. A hortelã é para os turcos o mesmo que o alho é para os brasileiros: está em todas! A cidade é linda, o mercado de temperos uma loucura! As pessoas pescam no mar em todas as pontes da cidade durante o dia e saem com seus peixinhos embaixo dos braços. E hortelã. Seca ou fresca. Na sopa, no peixe, na carne vermelha, em tudo! E nada de alho. Olha que eu rodei aqueles mercados. Vi muita coisa em abudância, mas alho, muito pouco. Achava que a comida turca ia ter quilos de alho e não foi isso que encontrei, não.
Ou seja, tudo depende. Hábitos, as vezes, nos emburrecem. Acho saudável experimentar fazer diferente. Foi da matriz desse pensamento que fiz estas quenelles com purê de cará. Ficou lindo e gostoso. Cará cozido em água com salsão, alho porró, cravo, tomilho e louro. Amassado quente e temperado com nata Balkis, creme de leite Balkis, sal e um pouco do líquido do cozimento. Brasileiríssimo, mas sem alho...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Produção independente


Recebi no celular as fotos desta entrada preparada pela minha aluna Juscélia junto com o seguinte texto "olha só a sua aluna"! Quem gosta de ensinar sabe bem o prazer que é ver as pessoas alçando os próprios vôos. Na cozinha não é diferente.

Acredito que cada um descobre seu potencial criativo sozinho. O meu trabalho é referenciar, apresentar possibilidades de ingredientes, dividir o que sei e acreditar que vai dar certo. Todo mundo tem as próprias experiências com a comida e o paladar. Quando alguém se propõe a aprender, junta tudo e constrói segurança suficiente para começar a pensar sozinho e inventar suas próprias produções.

A entrada da Ju é com massa de pastel de feira assado, mais o patê com cani defumado e creme de ricota Balkis, - que ela inventou -, radicchio e morango. A invenção foi boa, a apresentação ficou ótima e a idéia também. A massa de pastel de feira, a Ju colocou no fundo de forminhas de petit gateau e fez as cestinhas. Aí está a idéia dela recheada com o orgulho da professora, que já começou a aprender com a aluna.