quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O sal da Terra


Imagine desde quando o homem vem utilizando sal...desde muito tempo. Alguém, em algum dia, "caiu de boca" numa rocha com muito sal, e a partir daí, tudo começou. Há que se imaginar alguma coisa, né? Mas, pensa comigo: o tratado mais antigo sobre o uso farmacológico do sal data de 2.700A.C e já categorizava mais de 40 tipos de sal. O livro "História do Sal" tem umas fotos inacreditáveis de como, na China, se extraia o sal quilômetros a dentro com umas engenhocas de bambu. Os egípcios conservavam as múmias em sal e era moeda forte quando se tratava de ouro, escravos e mulheres. Na Roma antiga, - que aliás até hoje tem  a via Salária, que era por onde o sal chegava até o rio Tibre -, davavam-se rações de sal para os soldados: salário, vem daí.
O "ouro branco" era caro e raro e detonou guerras e conflitos importantes: a taxação do sal na França somou-se aos muitos motivos que levaram à Revolução Francesa e não vamos esquecer da Índia e da coragem de Gandhi contra os britânicos pela democratização do sal.
Hoje, todo mundo tem sal. Mas o negócio é antigo. Da conservação dos alimentos mergulhados em sal à geladeira e freezer muitos anos se passaram. 
Sempre tive uma paixão pelo sal. Gratuita. Adoro sabê-los roxo, rosa, negro, branco, em granulações diferentes despertando os sabores das coisas todas.  Por isso mesmo o impacto foi grande quando, na madrugada de dois dias atrás, entrei  no salar do Uyuni, na Bolívia. Ao contrário do que eu imaginava não é um lugar que foi fundo de mar, um dia. Era um imenso lago com alta concentração de cloreto de sódio (algum potássio, lítio e outros tantos minerais) que secou. E virou sal. O maior deserto de sal do mundo. Não dá para explicar a sensação de alegria que me invadiu. Tem sal até 120 metros abaixo de onde se caminha, mas o que impressiona são as células que se formam na superfície, a imensidão e a brancura. Como um gigantesco organismo vivo e interconectado com tudo. Foi assim que me pareceu. E o espetáculo é assim: 3.650 metros de altitude, frio e branco sem fim. Até que o sol dê as caras e tinja tudo de rosa. Eu "caí de boca" e virei criança, de lamber o chão e tudo.
A comida da Bolívia do Uyuni, nem me lembro, não importava. Mas, na recolha manual do imenso reservatório que têm - 10 bilhões de toneladas de sal, das quais menos de 25 mil toneladas são extraídas anualmente -, os bolivianos sao guardiões de uma das maiores maravilhas que já vi e experimentei: o sal da Terra.
Quando chegar corrijo o texto e coloco minha própria foto...