quarta-feira, 13 de março de 2013

Vive la vie



Sempre um presente é uma coisa especial que traduz muito da pessoa que presenteia. Perceber as particularidades de cada um é o que eu mais gosto quando os ganho.
Na semana passada a França chegou pelos olhares da Nana e da Isa. Duas lindas que vieram cheias de histórias para contar. Um dos presentes que a Nana me trouxe é incrível. Um livro chamado “Receitas de Guerra”, do Auguste Jotterand, ilustrado por Daniel Nadaud, pela editora Héros-Limite, em 1917. Imagino que a apresentação devia ser parecida com a atual, uma brochura. E me perguntei quem, em tempos de primeira guerra mundial, estaria preocupado em fazer um livro de receitas? E prá quem?
Pois está tudo lá. O autor explica seus motivos logo na apresentação e propõe comidas nutritivas e gostosas com até 150% de economia. Diz estar respondendo ao pedido de pessoas que lhe demandaram o livro. Parece que os ingredientes mais escassos eram as carnes e ele propõe alternativas saudáveis por preços possíveis. Rodei o livro do começo ao fim, pois para mim, é inusitado que alguém em tempos de guerra escreva um livro de receitas (só na França uma coisa dessas). Posso ver o lema francês “jamais descuidar do que se come, faça chuva, sol, mesmo que bombas estejam sob nossas cabeças e fuzis aos nossos pés”.
Temos o privilégio da não experiência da guerra e acho que nosso imaginário relaxado não dá conta de avaliar o que seria uma. E depois desse livro posso compreender ainda mais os franceses, seu orgulho e talento pela culinária e suas lindas apresentações. Através da comida, conseguiram manter-se identificados e organizados mesmo nos tempos mais difíceis. Não é incrível?
O autor aconselha conservas de ovo, de pão e salga de peixe para armazenamento já que não se sabia quanto tempo a guerra ia durar. A combinação batatas com queijo aparece em duas receitas: uma gratinada e outra de batatas douradas com cebola e queijo.
Aí chegou a Isa com “mignotes provençales” que são micro marzipans de amêndoas, melão e casca de laranja confitadas, com açúcar por cima e hóstias por baixo. Lindos e deliciosos. Fizemos um chá, saboreamos os  docinhos, falamos da vida e, quando ela saiu, pensei que naquele mini docinho moravam muitas histórias. E que nós, ao sentarmos em volta deles continuamos a construí-las: me deu uma emoção. E vive la vie!