sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

China, o maravilhoso mundo da cozinha muito diferente

Preciso mostrar prá vocês o livro que ganhei da minha amiga Gabriela. A Gabi é médica (a minha médica), e se interessa por comidas. Me deu consulta, almoço delicioso e um monte de presentes: quatro livros, uma jarra de bico fino maravilhosa e a alegria de estarmos um pouquinho juntas.
Acho que não sou a única, porém mais uma cozinheira que adora olhar livros correlatos. Além de técnicas, receitas e fotos, o que acho mais interessante são as histórias, quando bem contadas e bem escritas. Olha essa: livro de culinária chinesa com um capítulo intitulado "eating and bodily harmony" ou "alimentação e a harmonia do corpo".
O alimento e a alimentação na China têm uma ligação estreita com  a medicina preventiva, com a cura  e com o manter a harmonia interna. A medicina tradicional é largamente praticada na China e seus conceitos são ao mesmo tempo simples e complexos. Os alimentos são vistos como sendo ying e yang, qualidades que representam os opostos, como o feminino e masculino, negativo e positivo. O jogo constante entre as forças opostas é utilizado para manter a boa saúde e os ingredientes das receitas sempre são balanceados a partir desse conceito. E, segundo o livro, todos parecem ter um conhecimento básico da forma como os alimentos e outros ingredientes naturais se relacionam com a saúde.


Por isso, olhar o livro chinês é tão interesssante e tão surpreendente. Parecem bizarros os ingredientes como cavalo marinho e outros que embrulham o estômago só de olhar. Por outro lado, se encontram wontons (massas  recheadas) delicadíssimos em um consommé transparente. Acho que, se eu fosse para a China, iria achar tudo muito interessante, mas, talvez, descobrisse em mim mesma limitações culturais meio intransponíveis...como encarar enguias vivas, tubarões, ossos de macacos em algumas bases...sei lá. Pense aí, e você? Ah, o título do livro é 'The Real Food of China", de Helen Clucas e Alan Lindsay. 



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Cadê as maravilhas do cerrado?


pé de taperebá
 Neste final de semana acabei indo parar em Pirenópolis, cidade turística do século XVIII, patrimônio cultural tombado pelo Iphan, em meio a  paisagem deslumbrante da serra dos Pirineus, no cerrado, dono de incontáveis e surpreendentes ingredientes. O bioma do cerrado é extenso (considerado o segundo maior brasileiro), e o pessoal do Slow Food de lá é muito ativo, uma moçada linda que dá gosto de ver. Comi uma comidinha muito boa,  de roça,  feita em panela de barro e fogão a lenha com ingredienetes colhidos ali mesmo, bem fresquinhos. Atrás de uma daquelas maravilhosas cachoeiras estava o mirante com suas redes e mesas de pedra onde comi arroz, feijão, muita salada fresca, abóbora d'água, abobrinha, milho, farofa com 'çafrão', omelete feito com queijo de produção local, mandioca frita e banana assada.

saladinhas colhidas na hora
Este lugar era longe da cidade Estava tudo muito gostoso, mas não tinha nenhum pequi, nenhum taperebá, nada de buriti, nem da cagaita, baru ou araticum. Vou olhar lá no blog da Neide Rigo para saber se ela fala sobre a saxonalidade das plantas do cerrado, mas nem um suco de polpa que fosse até mesmo congelado? Nem lá ,- ok,  não tinha eletrecidade- nem na cidade !
Fiquei pensando sobre o destino dessas cidades chamadas 'turísticas' que acabam perdendo sua maravilhosa identidade, plena de conhecimentos regionais em nome da pasteurização do atendimento ao turista. Conversando com um antigo pirenopolino dono de vasto conhecimento sobre as questões da cidade e dono do "pouso café cultura" que nos recebeu, soube que a cidade tem sido invadida por brasilienses aposentados  atrás de uma condição de vida mais calma. E que, por conta disso, o comércio local também ficou cheio de pessoas vindas de fora sem e nenhum compromisso com a preservação da cultura local. Fiquei sabendo que panelas de barro são características nessa região, mas não vi nenhuma delas, por exemplo. Nem nenhum doce de buriti para trazer ou mesmo experimentar por lá, nem nenhuma geléia , doce ou suco de taperebá, nada com aquele monte caju anão.
A gente não deveria valorizar muito essas riquezas regionais e as pessoas que sabem lidar com elas? Afinal, não é prá isso que a gente viaja? Para se abrir e experimenar o novo, o diferente, aquilo que é característico do lugar? Onde podemos experimentar das riquezas locais com quem aprendeu e desenvolveu, as vezes, por anos a fio, saberes particulares?
Por onde andei só encontrei as tradicionais pizzas, comidas francesas e massas italianas. Não que eu tenha algum problema com elas, mas, no mínimo, em igual número, eu não deveria achar ofertas daquilo pelo qual me desloquei tantos quilômetros?
fruto do taperebá
De qualquer forma, no quintal onde fiquei hospedada tinha um gigantesco pé de taperebá. Carregado. E, segundo me contou o Isócrates, dono local, crianças com seus cestos retiravam montes deles quando caiam no chão e levavam embora para vender e serem transformados em delicias únicas ou para consumo in natura. Ufa! Ainda vou voltar para Pirenópolis para ver estampado em restaurantes locais muita comida boa com uma porção de ingredientes que não conheço e nem nunca ouvi falar. Exibidos com orgulho e propriedade dos que , com certeza, estão escondidos atrás dessa orda de mesmice que invadiu a Pirenópolis, linda. Ah, e experimente, que gostoso: banana assada com casca e queijo minas frescal. Tinha na roça, é local e muito bom.