Terça-feira passada, às oito horas da manhã , em São Paulo, os termômetros na rua marcavam 29 graus. E às onze, 40. Tinha ido dar aula, e foi no meio dela que, de repente, estava no terraço do apartamento da minha aluna comendo deliciosas jabuticabas no 12º andar. No pé. Ela plantou duas jabuticabeiras em vasos e elas estão lá, produzindo. Não é incrível a vida na cidade grande e a modernidade? Hoje em dia você pode morar nas alturas e ter jabuticabeiras na varanda. Não sei se vai dar prá subir no pé, ficar lá em cima sentindo o ar perfumado das outras árvores frutíferas do pomar, mas que dá prá comer delas com os pés no chão, isso dá. O sabor da fruta me trouxe o frescor do vento, dissipando o calorão. Por um segundo estava em cima da árvore, sonhando acordada.
Aí, ontem, fui assistir um documentário sobre um templo indiano onde 100 mil refeições são produzidas e servidas diariamente. Imagine um exército de gente dividido em alas de ingredientes: ala dos descascadores de cebola, do alho, de ervilhas etc. Todos sentados no chão, descascando. E tem também os recolhedores disso tudo com suas cestas. E os cortadores. E os recolhedores do que foi cortado que, finalmente, encaminham tudo para os cozinheiros. Que cozinham em panelas gigantes.Que precisam ser limpas direitinho depois de tudo acabado. São tão grandes que para esfregá-las é preciso entrar nelas...O melhor são os fazedores de chappatis, o tradicional pão indiano, que não pode faltar nas refeições. É assim: ao redor de várias massas gigantes tem gente que faz e arremessa bolinhas . Em frente a umas pedras cheias de farinha outros recolhem as bolinhas e as abrem com um cilindro de madeira. Em uma chapa quente ficam os viradores de lado, os arrumadores de espaço e os retiradores de chappatis das chapas. Eram, claro, várias chapas. Prá não contar da hora de servir e lavar os pratos. Coisa de maluco! Pude sentir o cheiro dos chappatis quentinhos, de novo, sonhando acordada.
E aí, ligando os pontos da jabuticabeira no 12º andar com os sikhis da Índia pensei que, no que diz respeito à comida, o céu não é o limite. Todos os esforços da inteligência e da logística se colocam a serviço da produção de um momento de felicidade.
A foto da jabuticabeira a Cris fez. "O ritual da comida " é o nome do filme. Se você gosta do assunto vai se encantar.