quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A farinha do seu Bené



Foi a Suzana, amiga muito querida, quem me deu de presente: um paneiro cheiinho da farinha do Seu Bené. O seu Bené é paraense, produtor da melhor farinha d'água que já provei na vida e representante ilustre de uma gigantesca população de brasileiros que vive da agricultura familiar. Gente que trabalha de sol a sol, que aprendeu o ofício com o pai e a mãe que, por sua vez aprenderam com os seus, e assim em uma cadeia de ancestralidade sem fim.
A população das grandes cidades, em sua grande maioria, está apartada de tanta riqueza e sabor: compra em grandes cadeias de supermercado produtos impessoais padronizados pelas grandes indústrias de alimentação. Bem, nós mesmos construímos esse modo de vida...ocorre que uma coisa não precisa necessariamente vir divorciada da outra. A riqueza de conhecimento e sabor pode estar presente em nossas vidas urbanas, se a valorizarmos. O Seu Bené e sua farinha é o bom exemplo.
Foi em um congresso de gastronomia que o Carlo Petrini,  presidente do Slow Food, entidade internacional que se organiza mundialmente por uma comida boa, limpa e justa para todos, desvendou o seu Bené. Ao falar, no encerramento do evento, ele disse algo como "muitos dias aqui falando de como conhecer e proteger produtos quase extintos por falta de reconhecimento e o Seu Bené, lá fora, levando de volta para o Pará quase toda a farinha que produziu para apresentar a vocês..". Pronto. Bastou para que o seu Bené voltasse leve para Bragança, cidade onde mora.
O ser humano é assim mesmo, vai aprendendo por atrito e deslizamento, mas o mais importante de tudo é que hoje já é possível comprar farinha do Seu Bené aqui mesmo em São Paulo. Há anos atrás, trocávamos essa farinha entre cozinheiros como quem sabe bem a figurinha carimbada que achou e precisa dividir com os melhores amigos. Hoje, fruto de uma tendênca mundial e bastante trabalho de alguns, a Suzana me comprou farinha do Seu Bené em um mercado de São Paulo. Ok, mais gente tem acesso. E, já, já outros mercados também vão se interessar em ter também nas suas prateleiras vários produtos que têm tanta história para contar, quanto sabor a apresentar.
A minha fiz como farofa frita na guee e azeite bem crocante com castanha do para, queijo coalho e pimenta da boa; recheei abobrinhas e comi com leite de coco. Mas é só o começo porque as possibilidades são muitas.
Ninguém melhor do que o Seu Bené para contar um pouco do que estou falando...repara no " sou apaixonado pela lavoura"...isso se traduz em sabor.