Passei vários dias sem cozinhar direito porque quebrei três dedos da mão: dois na direita e um na esquerda. Estava só fazendo coisas que exigissem pouca prática e habilidade, pois minhas valiosas mãos tiraram férias de mim.
Elas ainda doem, mas já dá para algumas aventuras. Ao pegar minha mais importante ferramenta e começar o meu trabalho, vi que minha faca estava sem fio. Ficou esquecida pela cozinha e mais gente deve ter feito uso indevido dela (porque ela é só minha, se me entendem...). Não tenho problemas em dividir nada, mas a minha faca é exclusiva. Aí, me dei conta da emoção que senti quando, na área egípcia do museu Metropolitan, vi a exposição de materiais cortantes em pedra, pré-históricos da região do rio Nilo.
Todo mundo sabe que os egípcios foram grandes agricultores no passado, mas imaginar que nem o Egito existia quando da datação destas peças e que o homem já estava cortando para comer e preparar, me arrepiou. Há quanto tempo estamos, enquanto espécie, elaborando esses instrumentos e quão pouco eles mudaram deste que chegamos nesta forma, convencionalmente chamada hoje em dia, de faca? Algo em torno de anos dez mil anos...só para falar da forma faca propriamente dita. Se viajarmos para o período paleolítico onde as pedras faziam a função, o negócio vai ainda mais longe...Mudando um pouco de assunto mas ilustrando a beleza do período império egípcio, olha só este prato de bolo em alabastro..
Por isso, ao pegar hoje a minha faca lembrei que lá, peguei a máquina fotográfica e registrei tudo para dividir aqui com vocês. O ato trivial e o mais corriqueiro na cozinha, cortar, é das aquisições mais remotas da inteligência humana...
Pois é! Parei, escrevi, e agora volto para minhas berinjelas que são loucas para tirar o fio das facas, como se elas não tivessem muita importância, as anciãs dos utensílios, capazes de promover grandes transformações no nosso modo de vida. Até hoje.