segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Prosaico com alegria


Vou contar um segredo das dores do cozinheiro profissional, pelo menos no meu caso: quando as pessoas descobrem que você é cozinheiro, ninguém quer saber de cozinhar prá você. Na roda de amigos, você é sempre a pessoa que sabe tudo sobre cozinha...como se fosse possível alguém saber tudo sobre qualquer que seja o assunto! E o pior é a crença de que o prato gostoso é aquele que precisa de salamaleques, invenções estrambólicas e combinação de ingredientes esdrúxulos.

O melhor de cozinhar é ver os outros comerem. E, às vezes, é muito bom receber uma comida feita de um lugar descomplicado. Por isso, amigos íntimos, cozinhem prá mim, que eu vou adorar! Comida despretensiosa e amorosa, sem medo de ser feliz. Tenho uma amiga da escola, Yolanda, que, de vez em quando, no meio de altas produções gastronômicas, dizia estar louca prá ir visitar a mãe na Bahia e "comer um caldinho sem técnica!".

Não estou, nem de longe, fazendo apologia de comida ruim, mas do fluxo amoroso que a comida permite. Ela é que é a verdadeira varinha de condão da mágica do sabor. Fiquei pensando nisso enquanto cozinhava uma prosaica torta de queijo com massa mole de liquidificador, receita desprezada. Como já disse, bons ingredientes e abertura não preconceituosa colocam uma boa mesa! Ficou tão gostoso e tão bonito! O queijo era minas padrão Balkis, e o orégano era fresco. Pronto, foi o que bastou!

Na semana passada, durante a preparação de um evento para crianças, vi, de repente, a cozinha cheia de gente querida (algumas que não via há muito tempo - Adriana que me trouxe um pano de prato lindo de presente que postei na foto abaixo - outras que vejo mais assiduamente - Marcelo e Rose), que na maior alegria do mundo entraram na farra de enrolar brigadeiro e contar histórias. No meio de tanta trabalheira, o clima já era de festa, e, quando chegou a hora da festa propriamente dita, toda essa alegria estava incorporada nos prosaicos brigadeiros! Que ficaram ótimos, feitos com creme de leite Balkis e chocolates maravilhosos, claro!



O que eu quero dizer é que comida tem que ter alegria. E para ser feliz tem que descomplicar. O grande mestre Ferran Adriá diz que a gente tem que permanecer com a curiosidade e alegria infantis para cozinhar bem! Na verdade a apologia é da alegria! Com bons ingredientes, é claro.

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