quinta-feira, 22 de maio de 2014

Zattar com tahine: tão longe, tão perto


O melhor é ir quando se vai e voltar quando chega a hora. Minha filhota rodou pelo mundo e quando a saudades parecia louca, regressou. Além das alegrias da volta, trouxe um pouco de onde andou. Tinha mel de tâmaras, que a minha memória dizia ser incrível, e é mesmo; noz pecan do quintal da casa da Quel, em Jerusalém; castanha de semente de damasco salgada (incrível); chá da Capadoccia, que a minha querida Maíza diz ser bom prá tudo. E não sei bem prá quê, mas o sabor da baunilha é ótimo, e isso em si já é bom prá muitas coisas...figos, damascos escuros, tâmaras turcas, café palestino moído na hora com cardamomo, pinoles russos. O mais incrível foram os tahines e a zattar. Para mim, até então, tahine era a pasta de gergelim e ponto. Na minha ignorância não conhecia tahine de gergelim integral, tahine de amêndoa e outros tantos. Ela disse que os russos têm tahine de semente de damasco, que é maravilhoso, e produtos muitos diferentes de qualquer coisa que se pode imaginar. Aliás, contou que os próprios russos são muito diferentes de qualquer coisa que se possa imaginar: que são como seus produtos, uma boa surpresa! A zattar, trouxe da Palestina, lugar onde conta que comeu a melhor coalhada seca da vida! Que eles têm muitos tipos de hallawi, o doce que aqui conhecemos como sendo do gergelim, mas que lá pode ser de outras sementes. Contou que tem um, muito escuro, com pistache e de textura e sabor incríveis. Que os sucos nas ruas são muito bons, que a zattar tem em profusão e variedade com aromas que chegam a quarteirões de distância..que as pessoas são doces e ficam muito, mas muito felizes se você as visita. E que a comida é intraduzível. Que o tal do muro que divide a Palestina de Israel é a coisa mais triste...e que a Palestina é um lugar que pode ser completamente esquecido pelo mundo...mas que lá acontecem coisas lindas, festivais internacionais de comida e dança. Ficou na casa da amiga em Israel, que foi quem apresentou o amigo palestino que a recebeu, na Palestina. O mundo tem jeito. E, aqui em casa, pensei sozinha como é que dois povos tão complementares podem se estranhar tanto?! Assei uma berinjela no forno, inteirinha embrulhada no alumínio. Preparei a pasta de tahine e a zattar com azeite. Quando estava molinha tirei do forno e cortei ao meio. Grelhei com sal e azeite na frigideira antiaderente. Coloquei Sour Cream Balkis, tahine e zattar: tahine israelense com zattar palestina. Sem nenhuma grande invenção. De maneira simples, o melhor de dois povos, que, um dia, ainda se reconhecerão como grandes parceiros. Porque o mundo dá muitas voltas...

2 comentários:

Kitanda Brasil - Quitandas e Quitutes disse...

"Tão perto....tão longe"....
São apenas 500 km e seis horas que nos separam.....mas parece tão longe quando a saudade aperta.
Eu pude sentir todos os aromas, perfumes e texturas dessa viagem.
Uma lágrima me escorreu pelo canto do olho, lendo sua descrição, e tudo que eu queria agora era comer essa berinjela, me encostar no balcão da cozinha, te vendo preparar todas as delícias que me recebem quando chego na sua casa......

marcia micheli disse...

Ô sôdade!!! Chega aqui que tem tahine e zattar da boa, Tan, querida!