segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Cinema e Gastronomia


Começa às 18 horas, na Livraria Cultura, em São Paulo, o evento intitulado "Mostra DOC Gastronômica".  De hoje até quarta feira, sempre a partir das 18 horas, serão exibidos filmes sobre o tema: de curtas metragens de 7 minutos à longas de 90 minutos. 
Para gente que gosta de cozinhar este é um prato cheio. De sabores variadíssimos: dos problemas da agricultura industrial e da discussão da possibilidade de a agricultura familiar sustentável voltar a ser  horizonte para um mundo mais seguro até a intitulada "sessão coisas do Brasil", na qual, com o filme "O mineiro e o queijo", poderemos conhecer a técnica de produção artesanal trazida ao Brasil por portugueses. Esses portugueses, que buscavam ouro, acabaram produzindo um ouro cultural, do qual 30 mil famílias sobrevivem em todo o estado de Minas Gerais, para alegria de todos nós.
São Paulo não é a cidade mais fácil de se viver no mundo. Mas, tudo tem suas compensações. No final de semana, terminou a mostra "Revelando São Paulo",  onde as ruas da zona norte da cidade foram invadidas por grupos dançantes, cavaleiros, gente de todo o estado, mostrando suas particularidades e maneiras de estar na vida. Claro, a comida esteve lá na sua imensa diversidade.
Termina uma coisa, começa outra. E, a Livraria Cultura, da Avenida Paulista promove sua "Mostra DOC Gastronômica" com uma coleção ampla de filmes sobre o assunto. Gratuitamente.

Se a arte de cozinhar lhe interessa, não perca. Ao invés de passar a hora do rush no trânsito, no metrô apertado, dentro do ônibus que demorou a chegar no cotidiano de uma cidade impiedosa com seus moradores, aproveite o calor humano do conhecimento, entre na livraria e viaje para universos cheirando queijo, alfaces frescas, mercearias que ainda aceitam trocas como pagamento. E  desfrute o que a cidade tem de melhor. A gente se vê lá!

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Que bom que vocês chegaram!




O que faz com que uma pessoa nascida e criada em um país decida deixar parentes, amigos, um universo cultural inteiro e se aventurar em uma terra distante? Este é o tema do documentário "Porque você partiu?", do diretor Eric Belhassen, ele também na mesma condição daqueles a que se propõe investigar.  Os países em questão são a França e o Brasil. E os personagens, chefs da gastronomia francesa que escolheram o Brasil como morada e suas motivações: ganhar dinheiro, gosto por viagens, obediência à orientação do mestre, desilusão amorosa, incompatibilidade com parentes podem ser os aparentes motores para dar início ao movimento, mas a verdade mesmo, eu acredito, é mais universal que pessoal.
O filme fala das dificuldades e das vitórias, das saudades, das visões de duas culturas tão distintas em relação à vida e à comida. São todas histórias de sucesso, mas que têm passado, e é isso que o filme constrói, a história. 
Para a turma que gosta de cozinhar, é interessante desglamourizar os personagens e perceber o tamanho de esforço envolvido nas histórias pessoais. E o descortínio dos verdadeiros talentos: no Instituto Laurent Suaudeau, por exemplo, o máximo do prazer é ensinar. Todos vindos do país onde só não produz boas comidas quem for bobo, onde saber cozinhar é sangue que corre nas veias é engraçado ver o Erick Jacquin  abrir um cupuaçu com martelo e depois fazê-lo recheio de peixe. Chegaram sem dominar a língua e os ingredientes, mas carregados da cultura onde saber cozinhar é natural. Tiveram que dar alguns nós no espírito para entender como alguém trai a confiança do outro por dinheiro, por exemplo. Mas todos eles ficaram firmes no propósito de trazer o melhor que tinham e dividir, transformar e se adaptar ao local em que escolheram viver. Descobrir novos ingredientes, ensinar, aprender. A vida é isso em qualquer lugar, é verdade. 
Eu adoro a França e admiro o prazer e a aptidão que os franceses desenvolveram em relação a arte da alimentação. Uma vez, atraída pela beleza  dos doces entrei em uma doceria e, abordada pela vendedora, disse não desejar nada, apenas admirar. Ela era uma menina e se aprumou toda com o elogio e me contou que era ela mesma a autora das proezas. Vi naquele gesto a força da história e entendi um pouco mais a alma francesa, acho.
Em tempos de globalização é bonito ver franceses tão adaptados ao modo de ser brasileiro sem perder a essência da diversidade. Continuam cozinhando como franceses, com ingredientes brasileiros. Carreiras de sucesso, sem dúvida. Mas, antes de qualquer coisa, pessoas procurando ser felizes com o que fazem. Por isso, aliás, o sucesso. Não acho que partiram para obter sucesso. Acho que partiram para ser felizes. E fazer outros felizes…Se você se interessa por cozinhar, vai gostar.



domingo, 8 de setembro de 2013

Sempre é dia de pão de queijo



Acho que existem tantas receitas de pão de queijo quanto admiradores dele. Outro dia uma amiga me escreveu, da França, querendo uma receita. Passei uma das que tinha e ela me mandou a foto depois: pão de queijo feito com queijo gruyere que virou um bolo de pão de queijo esparramado pela assadeira toda, bem dourado e, segundo ela, uma delícia…esqueci de dizer que não precisava óleo, em se tratando de queijo com tanta gordura).
A Neide Rigo sustenta que a "verdadeira" receita de pão de queijo depende muito de você ser versado em "mineires" e saber interpretar com exatidão o significado de um prato cheio, ovo até que dê o ponto e outras inexatidões super exatas para alguns. Acho que esse é só um ponto de vista, em um assunto que abarca infinitos dele: depende do queijo, do polvilho,  do tamanho do ovo, da mão de quem faz, da temperatura do forno, vixe! 
Bom, minha questão é que eu queria fazer um pão de queijo daqueles que ficam ligados por dentro, sabe? Quando quentes são quase um creme e não ficam do tipo aerados (que também são muito bons). Vi uma foto de um que parecia ser do tipo. Dizia que o segredo era usar só polvilho doce. Pois bem, fui tentar. 
É domingo. Os supermercados são cheios e os mercados municipais estão fechados. Fui na padaria da esquina e pedi para me venderem um pouquinho daquele que eles tem lá dentro para o pão de queijo do balcão, mas avisei que queria só do doce. Veio pesado no saquinho fechado. Saí feliz e, em casa, já estava todo o resto, separado, queijo minas padrão Balkis etc, etc. Só que, quando abri o saquinho, não era polvilho doce, não. Era do azedo…paciência, pensei. Pão de queijo é sempre bom e a outra tentativa vai ter que ficar para outro dia por que deu pão de queijo aerado, e dos bons.

Vai aí a receita se você quiser experimentar dele neste domingo ensolarado para o lanche da tarde e alegria de todo mundo.
E se alguém souber uma receita do tipo ligado, me avisa, por favor!

Pão de queijo
300 gramas de polvilho azedo
2 ovos
2 colheres (chá) de sal 
1 xícara de leite
1/4 de xícara de óleo
250 gramas de queijo minas curado

Ferva o óleo com o leite e misture no polvilho com o sal, os ovos e o leite. Faça bolinhas e asse em forno bem quente e pré aquecido  (280 graus)

domingo, 1 de setembro de 2013

Celíacos felizes no café da manhã!



Hoje, é domingo ensolarado. Levantei mais tarde, passeei e só depois é que fui tomar café da manhã. Retirei o glutén da minha dieta por um tempo determinado. O glutén é uma proteína presente no trigo, cevada, centeio e aveia,  mas especialmente popular na farinha de trigo. Significa que estou sem pão. 
Existe uma disfunção do intestino delgado, chamada doença celíaca, que se refere às pessoas que têm intolerância ao glutén por incapacidade de absorção dele. Não sou celíaca mas, me compadeço das pessoas que, por alguma disfunção física, estão privadas de um ou outro alimento. E sempre imaginei como seria a vida dos celíacos, sem pão. Não preciso dizer que adoro pão: comer e fazer. Me impus essa restrição e estou passando bem sem ele.
Descobri que no país da mandioca, do milho e da abóbora (que bom é viver em uma terra "em se plantando, tudo dá!"), não é um sofrimento atroz viver sem glúten. É principalmente no café da manhã que ele vai fazer falta. Pois os meus têm sido abastecido com virado de queijo (queijos derretidos com farinha de milho, comida de tropeiro) banana da terra frita com queijo coalho, tapioca com queijo, pão de queijo, chapatti de grão de bico, chipas quentinhas, arepas de milho, cuscus baiano de farinha de milho bem fininha com coco e queijo e mais um tanto de coisas boas.
Ganhei de presente de aniversário um jantar produzido por gente maravilhosa com panqueca de acarajé (invenção do Marcelo) feita com dendê artesanal socado no pilão e vatapá com farinha de milho artesanal, cogumelos, abóbora e xerém. Nunca tinha comido nada igual…
Mas, foi hoje no café da manhã que realizei que os celíacos podem ser muito felizes, apesar da restrição. Não tinha me dado conta, até então, da variedade de opções sem glúten que me criei! Tinha queijo Burrata da Balkis na geladeira - é dos meus preferidos - e uma chipa velha no armário, que requentei no forno. Lembrei dos cafés da manhã na Turquia cheios de pepinos, tomates e azeitonas. Incluí as folhas, orégano fresco, um pouquinho de azeite e flor de sal e…nossa...que delícia! Pensei que precisava partilhar. E que os intolerantes ao glúten e os intolerantes à lactose já estão melhor servidos. E isso é bom! Bom domingo à todos.

domingo, 25 de agosto de 2013

Amigos e comida



Fui para Monte Alegre do Sul, cidadezinha do interior do estado de São Paulo, onde um amigo querido mantem funcionando um bar e restaurante. Ele me convidou para a "noite do chef" e cheguei  esbaforida, me descolando de uma sexta-feira apertada demais. Não conseguia nem imaginar como é que eu ia chegar a tempo de preparar jantar para começar a servir no horário certo. Pensei o que é que a gente não faz por amor, enquanto ia indo pela estrada afora…
Somos amigos há mais de 37 anos. De épocas em que sabíamos pouco de nós mesmos, mas tínhamos certezas intensas e corações puros de intenções maravilhosas. E a vida nos colocou perto, depois longe e perto de novo.  Éramos uma trupe e tanto e quando a vida nos colocou de novo em contato fomos nos lincando igual uma rede bem tecida. Ainda nos amamos e nos admiramos e isso, de tudo, é o melhor.
Uns deram para arquitetos, outros para artistas, outros economistas, outros empresários, outros escritores, outros cozinheiros…mas, nada disso tem muita importância, porque quando nos encontramos estamos tão vivamente interessados uns pelos outros que fica claro que a essência da coisa é amor desinteressado.
Lembrei que nossas reuniões para mudar o mundo eram regadas por massas feitas por mim mesma! Eu sentia alegria em ver meus amigos reunidos em volta da comida. A mesma que senti quando depois da correria toda me sentei com várias dessas pessoas queridas em volta da mesa e comemos, ainda, a minha comida, dessa vez bem brasileira…queijo coalho com banana da terra, coentro, mel com pimenta na entrada, moqueca de caju, arroz, salada e manjar de coco com muitas especiarias de sobremesa…
A noite ficou fria, cada um de nós foi se embora novamente. Sei lá quando vai ser a próxima parada na vida capaz de nos reunir. Mas, certeza que além da receita nova que eles experimentaram, levamos doses de alegria renovada.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Yerevan, o berço do mundo e seus doces



A Paulinha é uma querida. Um dia, entre surpresa consigo mesma e duvidando da própria decisão me contou: "Vou prá Armênia. Prá um casório da família". Rimos juntas com a novidade inesperada e Yerevan (a capital da Armênia que eu também não sabia ser, até então) passou a fazer parte das nossas conversas. Quando eu for, isso ou aquilo não vai ser possível por causa dela, e por aí foi até que chegou o dia. Lá se foi a Paulinha prá Yerevan.
Ela é literata da boa e nada melhor que o relato da viagem contado por ela mesma. Mas, generosa, me incluiu e a parte que me coube era doce e linda. Chegou em um potinho de plástico e ganhou a mesa do café da manhã enquanto as novidades eram contadas prá um público interessado por tudo: a família, o casamento, as comidas, os pepinos (os pepinos são incomparáveis segundo ela), as montanhas, as cores, a língua, a música e os doces. 
Daqueles a gente podia entender um pouco mais vivamente. Estavam ali entre muitos hums! Eu queria saber do que eram os que não consegui decodificar, mas ela sorria: não sei! Eram tantos: laranja com amêndoas e especiarias, nozes, figo seco, romã e os de sabores desconhecidos. Todos incríveis.
Gosto muito dos doces do Mediterrâneo e do Oriente Médio. São bolos, biscoitos, folhados, muita semolina, macarrão cabelo de anjo e queijo. Feitos de frutas secas, muitas castanhas e inúmeras variações que dependem do lugar onde são preparados. Em Istambul, comi um baklava que não era exatamente um doce, mas uma viagem inteira...Não sei se por conta da grande imigração árabe no Brasil, mas sempre me pareceram  ter um gosto familiar. Aquele doce ativou todas as minhas papilas e memórias gustativas. 
Outro dia li uma pesquisa afirmando que o homo sapiens foi atraído para fora da África pela abundância de água doce na Baía de Eilat, no sul de Israel, fronteira com a Jordânia e Egito. E que isso facilitou a sobrevivência do homem moderno e sua posterior migração para a Ásia e Europa. 
Ok. Isso é um dado e tanto. Mas, para desfrute do homem contemporâneo, até hoje eles honram a herança. Da fonte de água doce, sendo um berço importante da evolução, para criadores de um tipo específico e maravilhoso de doce, que atravessou oceanos e conquistou terras longínquas.
E a Paulinha fez como eles: dias depois apareceu com um daqueles mini ninhos de uma única castanha, delicadíssimo. Direto do ninho do mundo para o meu ninho e meu desfrute. Certeza que ela aprendeu com os ancestrais. E eu, com todos eles. Obrigada, Paulinha! 

domingo, 11 de agosto de 2013

Feliz dia, pais!



Correu essa semana pela internet a notícia de a maior cadeia de pseudo alimentação do mundo (Mc Donalds e todas as outras redes que também lhes pertence) mudaria a receita de seu hamburguer nos EUA. Isso depois que o ativista e chef inglês Jamie Oliver denunciou em seu programa que o McDonalds usa hidróxido de amônio para converter a gordura da carne em recheio para seus produtos. Mais ou menos assim: o resto do resto, que voltaria ao mercado por um preço ínfimo para entrar na preparação de ração de cachorros, é o que o McDonalds usa para fazer hamburguer e vender para os incautos que consomem aquilo. Nas palavras do próprio Jamie: "Por que qualquer ser humano sensato colocaria carne com amônio na boca de suas crianças?".
Achei uma notícia e tanto. Independente de, na Irlanda e Reino Unido, assim como no Brasil, o MacDonalds afirmar que não tem essa prática, fica claro que tipo de coisa as pessoas hoje em dia são capazes de fazer por dinheiro. Diz que não fazia, mas vai mudar a receita.
E, hoje, é dia dos pais. O Jamie Oliver é pai. Por conta de sua profissão se preocupa com o que seus filhos comem e tornou sua a questão da preocupação com a dieta infantil  quando promoveu uma série de programas sobre a alimentação nas escolas da Inglaterra com resultados incríveis. Um pai dá estrutura. E comida é isso...
Tem muito pai por aí olhando para seus filhos e entendendo o quanto eles chegaram em suas vidas para torná-los pessoas melhores. O tanto de esforço e autosuperação que isso significa. E que, assim como o Jamie Oliver, topam essa batalha no dia a dia. 
Já contei prá vocês que o meu pai foi embora quando eu era muito pequena. A vida foi curta para mim, junto dele. Mas, o gosto pelo cinema foi ele quem plantou em mim. O desenvolver do afeto pelo aroma das ervas foi ele, também, quem plantou em mim. E, principalmente a alegria da família acho que me lembro de ser muito cara para ele. 
O  mundo transformou-se. Os pais puderam assumir cada vez mais a amplitude do exercício de seu afeto pelos filhos trocando fraldas, mudando seus horários de trabalho para vê-los  crescer mais de perto, cozinhando para eles, saindo em viagem de férias sem as mães, continuando presentes após casamentos desfeitos, topando recomeçar a vida com novas companheiras e novos filhos. Sei lá, a sociedade ampliou tanto seu leque de possibilidades que muitas formas de amar poderiam ser listadas aqui. Desfrutem seus filhos, pais. E desfrutem seus pais, filhos. Tenham todos um bom dia dos pais, com comida boa para adultos e crianças. Porque a batalha do Jamie Oliver pode não ser a sua em extensão, mas também é sua nas pequenas ações do cotidiano.
Ah, o vídeo está em inglês mas as imagens falam por si mesmas. São compreensíveis universalmente.